São Paulo, quarta-feira, 17 de julho de 1996
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Negociatas na dívida externa

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Está ficando esquisita essa pressão do Banco Central sobre o Senado para que seja aprovada uma proposta de reestruturação da dívida externa brasileira.
O BC quer trocar parte dos atuais títulos da dívida. Alega que o país terá vantagens nessa operação. Há opiniões controversas a respeito.
A idéia é retirar do mercado um papel pelo qual o país paga, em média, 5,91% de juros ao ano. No lugar, os bancos receberiam um título que renderia 13% anuais -de acordo com um exemplo preparado pelo BC.
Uma vantagem seria reduzir a dívida. O país retiraria do mercado os atuais papéis por um preço menor do que o acordado na época da emissão. Além disso, o governo brasileiro poderia resgatar o dinheiro que imobilizou como garantia dos bônus atuais.
Apesar das dúvidas sobre a vantagem do negócio, há consenso sobre uma coisa: quando se mexe na dívida externa, muito dinheiro muda de lugar. O BC e seus diretores também sabem disso.
Por exemplo, o portador de papéis de dívida externa vai lucrar se algum dia ocorrer a tal troca pretendida por Gustavo Franco, o diretor de Assuntos Internacionais do BC. A simples notícia de que a operação será realizada fará disparar a cotação do papel.
O BC teve uma amostra dessa variação de preço recentemente. Ordenou que o Banco Econômico comprasse US$ 1,7 bilhão em bônus ao par, um dos papéis da dívida externa.
A parte podre do Econômico, sob intervenção do BC, não teve escolha. Comprou o tal bônus ao par, cujo preço no mercado secundário neste ano variou de 49% a 58,75% do valor de face. Ninguém sabe quanto o Econômico pagou.
Curiosamente, a operação do Econômico, já realizada, é de valor quase idêntico a uma proposta de troca de bônus ao par enviada pelo BC aos senadores.
Só para registro: o preço dos bônus ao par tem subido nos últimos tempos.

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