São Paulo, sábado, 27 de julho de 1996
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Disco pirata de Tom Jobim invade lojas

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Nem dois anos da morte de Tom Jobim, e lojas de discos, gravadoras sérias e pilantras fazem a festa, vendendo tudo que se refere ao mais prestigiado compositor popular brasileiro.
Mas, cuidado. Entre os relançamentos, há tesouros perdidos e pedras falsas.
A gravadora francesa Kardum lançou, há seis meses, o disco "Estrada Branca", de Tom Jobim, "uma reedição gravada oficialmente em abril de 69, em Nova York, produção paralisada dada a falência do selo Versatile", segundo o livreto.
É grupo. O disco, encontrado na cadeia de lojas Virgin, e que também pode ser comprado pela Internet, é pirata.
"Há uma rede enorme de pirataria e, infelizmente, não deixariam o Tom de fora", ironiza Ana Jobim, viúva do compositor e responsável pela Jobim Music, empresa que administra os direitos das músicas de Tom Jobim.
"Claus Ogerman, que, segundo o CD, fez os arranjos dos metais, ficou uma fera. E me garantiu que nunca gravaram aquilo", diz Ana.
O maestro Claus Ogerman fez diversos arranjos para Jobim nas décadas de 60 e 70. Contatado pela Folha por telefone em Munique, não ligou de volta.
Mas uma carta sua, confirmando que o CD é falso, será usada pela família de Jobim no processo que move nos EUA contra a gravadora.
"Minha amiga Sandra Moreira comprou esse disco pela Internet. Isso é ruim pra todo mundo", conclui Ana.
O advogado americano David Grosberg, contratado pela família Jobim, diz ter provas necessárias para impedir a vendagem do CD.
"Eles mudaram os nomes das músicas e não é o Jobim cantando. Estão querendo tirar proveito de um nome popular", disse por telefone de Nova York.
Grosberg afirma que a prioridade é o recolhimento do disco, "não só por causa da família, mas pelo público".
Gravadora confirma pirataria
Joel Lebovitz, gerente da IMP (Iris Music Production), empresa responsável pela Kardum, confirma que não é Tom Jobim no CD "Estrada Branca".
Segundo Lebovitz, o selo americano Versatile fechou, e um advogado ofereceu a ele o master do disco, com uma carta da Ordem dos Músicos Americanos, que continha a assinatura de Jobim.
"Mas a fita que me mandaram não era a autorizada por Jobim. Fui enganado pelo advogado, que é meu amigo", disse Lebovitz por telefone, de Paris.
"Conheço música brasileira, mas não tanto", justifica-se, lembrando que a Kardum lança músicos brasileiros que vivem na Europa. "Por enquanto, não vou fazer nada contra esse amigo. Mas já mandamos recolher o disco."
"Agora é que descobrimos a pirataria. Acho que os gravadores de superqualidade e os novos equipamentos têm facilitado a vida dos piratas", diz Ana Jobim.

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