São Paulo, sexta-feira, 2 de agosto de 1996
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BRASIL X NIGÉRIA

Na derrota do Brasil para a Nigéria no futebol masculino há quem aponte falhas técnicas visíveis já no primeiro jogo contra o Japão, equívocos que passam pela escalação do time e incluem o despreparo físico dos jogadores, além de infelicidades táticas. Mas as maiores lições da derrota (e nada ensina mais que o erro e o insucesso) podem estar fora do retângulo do gramado. São de ordem política, ética e cultural.
A desproporção entre as verbas destinadas no Brasil ao futebol e aos outros esportes olímpicos é escandalosa, para dizer o menos. E se torna ainda mais inaceitável diante da performance do iatismo, do judô, da natação, do vôlei feminino, para citar apenas alguns exemplos, que mereceriam maior atenção.
O escândalo cresce quando se toma conhecimento de que, na véspera do jogo contra a Nigéria, o time brasileiro foi treinar num campo de golfe esburacado e desnivelado. Ou seja, não treinou. Nem sequer visitou o estádio onde sofreria o vexame final.
Mas há também uma lição de ordem ética, que diz respeito à conduta dos jogadores. Talvez pareça aos mais desavisados que o time do país tetracampeão do mundo seja um vitorioso quase natural. Pouco depois do jogo, um irresponsável tentou atear fogo à Embaixada da Nigéria em Brasília. Isso demonstra como para alguns (talvez torcedores) é difícil aceitar uma derrota para a qual não faltam motivos de toda ordem.
Se, porém, o despreparo para a derrota é até compreensível entre torcedores -ainda que o vandalismo seja absurdo-, algo está profundamente errado quando esse despreparo atinge os jogadores e seus dirigentes. O esporte, como tudo na vida, não se sustenta só com memória e pose.

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