São Paulo, quarta-feira, 7 de agosto de 1996
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Maluf responsabiliza moradores por mortes

LUCIA MARTINS

LUCIA MARTINS; VICTOR AGOSTINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Prefeito diz não se isentar de responsabilidade, mas que fez o melhor; desabrigados vão para Cingapura

O prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, culpou os moradores pelas dez mortes ocorridas ontem de madrugada durante um incêndio no conjunto habitacional José Bonifácio, um abrigo da prefeitura na zona leste.
"Não nos isentamos de nossa responsabilidade, mas achamos que a culpa das mortes foi das pessoas que instalaram gambiarras ao lado de material combustível."
Ele afirmou que recebeu a notícia das mortes ainda de madrugada. Antes das 7h, ligou para seus assessores para informar sobre o incêndio e pedir que fossem imediatamente para a prefeitura.
Todos os compromissos marcados para a manhã foram cancelados. No lugar deles, o prefeito se reuniu com o secretário de Serviços e Obras, Reynaldo de Barros, e manteve contato, por telefone, com o secretário do Bem-Estar Social, Adail Vettorazzo, que passou o dia no local do incêndio. "São Paulo está de luto", disse.
O prefeito afirmou que todas as famílias que moram no local serão removidas para apartamentos do projeto Cingapura (que está em construção na avenida São Miguel) dentro de 90 dias.
Segundo ele, há planos de remoção dessas famílias para o Cingapura há cerca de sete meses.
O Cingapura é um programa de verticalização de favelas que não transfere o morador para longe do local onde ele vive. O arrolamento e cadastramento dos favelados que passarão a ocupar um apartamento demora entre um e dois meses.
Por isso, segundo o secretário da Habitação, Lair Krahenbuhl, os desabrigados não serão enviados para um Cingapura convencional, que está sendo construído na região, mas para outro "Cingapura tampão", que também está sendo erguido perto do local.
O "Cingapura tampão", segundo ele, foi idealizado para atender justamente os desabrigados de áreas de risco. Nos próximos 90 dias ficarão prontos 1.000 dos 1.400 apartamentos do programa.
Enquanto o Cingapura não fica pronto, o prefeito disse que as famílias cujos abrigos foram destruídos pelo fogo serão levadas para "contêineres" localizados ao lado do conjunto habitacional.
Sobre a fiscalização das instalações elétricas do conjunto habitacional, Maluf disse que a prefeitura fez o "melhor". "Aquilo era um antigo alojamento do Metrô, que foi cedido. Fizemos uma obra e entregamos tudo em ordem."
Maluf não disse se vai indenizar os moradores. "As famílias terão todo o nosso carinho. Não é indenização que vai trazê-las de volta."

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