São Paulo, quarta-feira, 7 de agosto de 1996
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ACINTE

A declaração de um dos líderes do MST de que pretende proceder a invasões de terras produtivas cujos proprietários têm dívidas com o BB é um acinte. Não se trata, é óbvio, de defender os maus pagadores, alguns deles possivelmente de má-fé.
Ocorre, porém, que, por mais justas que sejam as reivindicações do MST, o respeito à lei é o princípio basal da democracia, ou seja, dos ideais de justiça e igualdade tão propalados por essas lideranças.
Como certa vez afirmou Winston Churchill em discurso à Câmara dos Comuns: "Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos".
E o respeito à ordem legal estabelecida, como não se ignora, é o fundamento da democracia.
Ninguém nega que exista um problema agrário no Brasil. Não se devem poupar esforços para tentar resolvê-lo. É igualmente certo que as respostas que o poder público vem dando têm sido muito mais lentas do que o que seria desejável. Daí a pregar o desrespeito à lei, sob a ingênua alegação de que ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão, vai uma enorme diferença.
Ainda que proprietários rurais simplesmente ignorem suas dívidas para com o Banco do Brasil, apesar de ter condições de pagá-la, certamente existem aqueles que não pagam apenas porque não têm os meios.
A democracia tem em suas bases os princípios da tolerância e da liberdade de expressão. Tem antes, porém, como pressuposto a obediência à ordem jurídica estabelecida. Desafiá-la é desafiar todas as bandeiras de justiça e igualdade pregadas pelo próprio Movimento dos Sem Terra. E isso é simplesmente intolerável.

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