São Paulo, quarta-feira, 7 de agosto de 1996
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O tigre que vem aí

CLÓVIS ROSSI

Seul - O governo coreano confirmou ontem, oficialmente, a viagem ao Brasil (e mais quatro países latino-americanos) de seu presidente, Kim Young Sam, no mês que vem.
É a primeira vez que um presidente sul-coreano visita a América Latina, o que explica o empenho que o governo local mostra em fazer dela um tremendo sucesso.
No Brasil, Kim Young Sam encontrará no presidente Fernando Henrique Cardoso o interlocutor ideal. Afinal, Kim cunhou para a sua administração, iniciada em 1993, uma palavra-chave: é "segyehwa" ou globalização em coreano. Palavra que FHC também gosta de usar com frequência.
Mas, atenção, entre "segyehwa" e globalização há mais diferenças do que as idiomáticas. Na prática, a globalização à coreana significa que o "tigre" está pronto para flexionar seus músculos e exibi-los ao mundo.
A definição de "segyehwa" para o presidente coreano é a seguinte: "Um esforço para levar a nação e seus cidadãos à primeira classe em todas as áreas, na política, na economia, no social e no cultural".
Bem diferente, portanto, do tipo de conformismo com que as autoridades brasileiras enfrentam um processo que, bom ou mau, penoso ou agradável, veio para ficar.
Os coreanos, ao contrário, recusam-se a aceitar que o mundo lhes imponha padrões. "Não achamos recomendável adotar regras de alguns países mais avançados, sem reformá-las", diz, por exemplo, Kakbum-Lee, primeiro secretário para planejamento político da Presidência coreana.
Sociólogo, com doutorado na Alemanha, leitor de FHC e sua "teoria da dependência", Lee exemplifica o que é globalização à coreana: "O filme 'Parque dos Dinossauros', de Steven Spielberg, rendeu dez vezes mais do que as exportações norte-americanas de automóveis. Mas, se simplesmente copiarmos um filme de Spielberg, mereceríamos que a película fosse atirada no lixo. Temos é que fazer um filme coreano que seja padrão para todos os seres humanos".
É esse o espírito do "tigre" que se prepara para descobrir o Brasil.

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