São Paulo, quarta-feira, 7 de agosto de 1996
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Zona leste: mais emprego

CELSO PITTA

A zona leste de São Paulo tem uma população de 3,5 milhões de habitantes, mais que cidades do porte de Belo Horizonte, Salvador, Recife, Porto Alegre ou Fortaleza.
Deveria ser uma verdadeira cidade, mas não passa de um aglomerado de bairros dormitórios. Dotada de grandes conjuntos habitacionais, oferece poucos empregos a seus moradores, obrigados a trabalhar no centro, em Guarulhos e no ABC. O vai e vem casa-trabalho sobrecarrega o sistema de transporte. As viagens, principalmente nos horários de pico, são muito desconfortáveis, sejam de trem, ônibus, metrô. De carro, há que se enfrentar os congestionamentos.
O problema vem sendo estudado há dez anos, e algumas medidas, encaminhadas, no terreno legal, para resolvê-lo. Faltava, para tornar efetiva a possibilidade de atrair indústrias, a realização de obras de infra-estrutura na zona leste. Esse passo foi dado na atual administração, o que me permite anunciar, como programa de governo, a criação de um Pólo Econômico na zona leste e de uma universidade para transformar a região em uma verdadeira cidade, com todo o equipamento público indispensável.
A condição prévia para a realização desse programa foi a construção da Nova Trabalhadores (estrada Jacu-Pêssego), a maior obra viária da atual administração. Os 18 quilômetros de estrada, com duas faixas e quatro pistas em cada uma, ligam a zona leste a Guarulhos, ao norte, e ao ABC, ao Sul, facilitando acesso às rodovias Dutra, Trabalhadores e Fernão Dias.
O porto de Santos e o aeroporto internacional ficarão facilmente acessíveis. Está aí um grande atrativo para as empresas localizarem indústrias modernas na zona leste. A Nova Trabalhadores exigiu a canalização do córrego Jacu, o que vai resolver o problema de enchentes.
Já existe uma área de 4 milhões de metros quadrados delimitada em Itaquera, próxima ao Parque do Carmo, para abrigar o Pólo Econômico. Como se vê, é um programa alicerçado na realidade, nada de miragens. O Pólo Econômico só depende, a partir de agora, da determinação do prefeito e de sua capacidade de diálogo com os empresários. Permitam-me a imodéstia, estou seguro de preencher as duas condições.
Segundo estudo da FGV-SP, encomendado pela prefeitura na atual gestão, há falta de vagas no ensino superior de qualidade na cidade de São Paulo. Igual carência se repete no ensino técnico para formação de pessoal de nível médio. Principalmente na zona leste, onde, para 30 mil alunos que concluem o segundo grau, há somente 17 mil vagas nas faculdades da região, todas particulares.
É imprescindível uma universidade pública na zona leste para transformá-la realmente em cidade, com elevado grau de autonomia. Isto é, em condições de proporcionar a seus moradores emprego, saúde e educação perto de casa.
A prefeitura já está presente no ensino fundamental, com uma rede escolar capacitada a receber 1 milhão de alunos, bem mais que a demanda atual. O importante agora é melhorar a qualidade, investindo no aluno, no professor e no equipamento, com ênfase na informática. E dar um passo adiante, ampliando sua participação no ensino técnico e ingressando no ensino superior.
Não pretendo, com a Universidade da Zona Leste, criar mais uma repartição pública. O modelo em estudo é de uma instituição apoiada pela prefeitura e aberta à participação da comunidade, inclusive empresas. Sua organização deverá combinar autonomia e responsabilidade. Isto é, o máximo de liberdade de gestão e estrita obediência às diretrizes traçadas pela prefeitura, além da obrigatoriedade de prestação de contas do emprego das verbas públicas ao Executivo e ao Tribunal de Contas.
O que se pretende é criar uma instituição moderna, comprometida com a sociedade e voltada para o atendimento da demanda de profissionais de alto nível nas áreas reclamadas pelo desenvolvimento da cidade, do Estado e do país. De início, três áreas seriam contempladas: tecnologia e gestão, biomédicas e humanas e sociais. Com o tempo, novas áreas seriam atendidas.
Só isso não basta. A formação de profissionais de nível médio é uma exigência do mercado e dos jovens que precisam trabalhar mais cedo e pretendem se capacitar para um emprego qualificado. Para esse fim, estamos planejando uma universidade especializada, também na zona leste. Nela seriam formados técnicos em informática, eletrônica, radioterapia, medicina nuclear, enfermagem, prótese, reabilitação, comunicação e artes.
É um projeto ambicioso, sem dúvida, mas na escala de São Paulo. E um prefeito desta cidade deve buscar inspiração nos exemplos de audácia dos bandeirantes. E tentar colocar-se à sua altura.

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