São Paulo, segunda-feira, 12 de agosto de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cartas pedem a volta da censura

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dezenas de cartas chegam mensalmente ao Departamento de Classificação Indicativa (DCI) do Ministério da Justiça e têm o mesmo destino: o arquivo morto. Nada pode ser feito pelo departamento, a não ser responder laconicamente.
"À União não é mais atribuída a função de censura prévia dos meios de comunicação. (...) A parceria e a ativa participação dos cidadãos fiscalizando e exigindo seus direitos é de suma importância para disciplinar as emissoras de TV", diz o texto-padrão de resposta. Nada além disso é remetido ao reclamante.
As cartas que chegam ao DCI, no entanto, pedem providências. Muitas delas são assinadas por câmaras de vereadores de cidades de interior, associações de moradores, entidades religiosas e escolas. Os nomes não serão divulgados a pedido do departamento.
Algumas pedem, radicalmente, a volta da censura. "O objetivo dessa carta é fazer o apelo, em nome de muitas pessoas, para que a censura volte a ser um sujeito controlador da programação", diz o texto assinado por diretores de uma escola primária da cidade de Ji-Paraná (RO).
"Porcaria"
"Eu pago meus impostos e taxas. Tenho o direito de falar e reclamar", diz uma carta em que o remetente de São Paulo reclama do programa "Domingão do Faustão", da Rede Globo, classificando-o de "vagabundo" e "porcaria".
Programas de domingo
Atualmente, além dos exageros das novelas, as maiores queixas envolvem os programas dominicais, que são transmitidos ao vivo. Além do Faustão, há muitas queixas contra a demasiada exposição de corpos e insinuações pornográficas no "Domingo Legal", comandado por Gugu Liberato, no SBT.
"O domingo não é nada legal, nada instrutivo. É sexo, sexo, sexo e sexo! Chega! É preciso cortar a erva daninha antes que domine a todos nós. Vamos coibir esses lixos!", afirma um morador da cidade de São Sebastião do Paraíso (MG).
Um morador de Campo Bom (RS) pede ao ministro da Justiça, Nelson Jobim, seu conterrâneo, que tome providências. "Algo precisa e deve ser feito. Abramos nossos olhos. Não podemos permitir e pensar nos lucros fáceis. É preciso que sejam preservados os bons costumes", diz a carta.
Dança da garrafa
Além das cartas individuais, chegam ao DCI vários abaixo-assinados e cartas de campanhas pela moralidade na TV. Uma dessas campanhas, "O amanhã de nossos filhos", enviou 20 mil correspondências ao departamento ano passado e quase a mesma quantidade no primeiro semestre deste ano.
Poucas cartas têm o destinatário correto. Algumas são remetidas ainda ao extinto Departamento de Censura Federal, outras diretamente aos ministros da Justiça e das Comunicações. Outras, para o presidente da República. Todas acabam no DCI.
Além de reclamarem dos programas de TV, as queixas incluem ainda músicas e mesmo coreografias, como a da "dança da garrafa". Nesse caso, as reclamações fogem às atribuições do departamento.
(WF)

Texto Anterior: TV paga traz opção de controle
Próximo Texto: Festival celebra Gastal, o Bazin' dos pampas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.