São Paulo, terça-feira, 20 de agosto de 1996 |
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Sem esperar as urnas
JANIO DE FREITAS A crença, até há pouco sustentada literalmente por Fernando Henrique Cardoso, de que venceria as eleições quem tivesse o seu apoio e apoiasse o Plano Real, não conflita apenas com a situação atual da disputa em São Paulo. Sua amplitude, surpreendente mesmo, quer dizer bem mais do que se constata nas pesquisas de cada cidade importante.A pesquisa do Datafolha publicada na sexta-feira, sobre a situação paulistana, contém um dado muito expressivo, mas ausente dos gráficos: mesmo os filiados ou simpatizantes do PSDB recusam seu voto ao candidato do partido: está em 45% a proporção, menos de metade dos peessedebistas, a proporção dos que se dispõem a votar em Serra. Não é um dado para se desprezar, nem para limitá-lo às peculiaridades da disputa paulistana. Em Fortaleza, o candidato do PSDB, além de representar Fernando Henrique e o Real, tem como pedestal o governo peessedebista do Estado. Mas não tem vencido a rejeição do eleitorado, que vem preferindo o candidato do PMDB. Em Belo Horizonte, a composição é a mesma, dando ao candidato do PSDB o suporte do governo federal e do governo estadual peessedebista. Em vão. No Rio, apesar do empenho sem limites do governo estadual peessedebista, o candidato do PSDB foi ultrapassado pelo do PFL, segundo a pesquisa mais recente (Ibope). Antes disso, já o confiável Datafolha mostrava crescimento intensivo do pefelista, enquanto a melhoria do peessedebista não ultrapassava a margem de erro admitida pela pesquisa. Em Porto Alegre e Curitiba, o eleitorado nega sua preferência aos candidatos do PSDB. Em Salvador e Recife, as pesquisas são lideradas por pefelistas associados ao PSDB. Nos dois casos, porém, o PSDB é apenas carona, porque a propulsão eleitoral é toda proveniente do caciquismo pefelista em Pernambuco e do coronelismo idem na Bahia. Nas capitais de expressão política mais reconhecida, portanto, não está sendo confirmada a teoria eleitoral adotada por Fernando Henrique Cardoso e por muito outros (na política, no jornalismo, entre os cientistas políticos mais políticos do que cientistas). Em quase todas as capitais citadas, não deixa de ser possível a virada dos peessedebistas, embora não seja provável -salvo, talvez, no Rio, onde a disputa ainda parece instável. Sejam quais forem, no entanto, os desdobramentos futuros, a atual concordância de rejeições aos representantes do governo federal não pode ser escamoteada com o argumento, já usado por Fernando Henrique, de que os candidatos do PFL também integram o esquema do governo. Para a maioria deles, é isso mesmo. Mas não o é para o eleitorado: o candidato que o eleitor identifica com Fernando Henrique, com o Plano Real, com o governo, é, sem a menor dúvida, o do PSDB. O eleitorado está dizendo coisas significativas antes mesmo de usar as urnas. Texto Anterior: Retirada de garimpeiros começa no mês que vem Próximo Texto: Governo terá de renegociar isenções com o Congresso Índice |
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