São Paulo, sábado, 24 de agosto de 1996 |
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Coletânea de Lispector escorrega no didatismo
MARILENE FELINTO
É o que acontece com o volume que inclui Clarice Lispector (1925-1977) na coleção "Os Melhores Contos" (Editora Global), lançamento desta Bienal do Livro. Na verdade, a falha parece característica de todos os volumes da coleção, que já entra no 20º título com o livro de Lispector. Irmã da coleção "Os Melhores Poemas", a de contos apresenta ainda, no caso de Clarice Lispector, o defeito de tratar como "contos" textos e fragmentos de textos que foram originalmente publicados como crônicas ou simples notas. É o caso, por exemplo, de "Estilo" (página 118) e "Por ser Hoje" (página 244). Ainda que a organizadora da coletânea, a professora Walnice Galvão, "explique" na introdução: "No extremo oposto, encontram-se textos onde a desagregação do épico é tão extremada que mal se pode chamá-los de contos, ou que quase nos proíbem de fazê-lo." Diz que eles seriam antes "uma meditação rente ao fenômeno" ou "uma intuição ímpar", "ou mesmo um epigrama". Aliás, os esclarecimentos da professora sobre a obra de Clarice Lispector, no mesmo texto introdutório, pecam por excesso de erudição -sempre pensando que se trata de uma obra paradidática. Ela diz: "Um último ponto, a exigir cuidados ecdóticos mais apurados. Observa-se o conjunto da obra de Clarice Lispector um curioso fenômeno, bastante peculiar, a que se poderia chamar transmigração auto-intertextual." Ainda que depois ela explique esse "abuso polissilábico". O volume "Melhores Contos" de Lispector parece ter sido feito às pressas, para ser lançado na Bienal. Não bastasse isso, e como são sempre subjetivas as escolhas, a coletânea não inclui o que é, senão o melhor, um dos melhores contos da escritora: "Os Desastres de Sofia"("Felicidade Clandestina", 1971). Livro: Os Melhores Contos Autor: Clarice Lispector Preço: R$ 26 Texto Anterior: Cecília enamora a lenda Próximo Texto: Pearl Jam surpreende no quarto disco Índice |
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