São Paulo, sábado, 24 de agosto de 1996
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Medida fundamental

CLÁUDIO STOCCO LELLIS

A questão relativa às tarifas bancárias no Brasil não deveria ser objeto de polêmica, como tem ocorrido. Trata-se de um processo indispensável na presente conjuntura. Quando os índices inflacionários eram elevados, os bancos obtinham ganho com o dinheiro que circulava no sistema financeiro, como os depósitos em conta corrente e os recursos relativos às cobranças. Os clientes pagavam pelos serviços bancários de forma indireta e não percebiam isso.
Atualmente, com a inflação sob controle, a realidade é outra. Sem a existência de altos índices inflacionários, os depósitos em conta corrente e os fluxos financeiros que transitam no sistema deixaram de gerar receitas.
Assim, conforme indica a lógica e a mais óbvia regra da boa administração, torna-se necessária a cobrança de tarifas para remunerar os bancos pelo trabalho que realizam e os serviços que prestam aos seus clientes e usuários.
A cobrança das tarifas, na nova realidade brasileira, é importante para os bancos, especialmente os de varejo.
É preciso considerar que, sem qualquer exagero, o sistema financeiro do Brasil, estruturado num período de inflação alta, é extremamente sofisticado, podendo equiparar-se aos mais modernos e eficientes do mundo. O Brasil é o único país, em todo o planeta, onde a compensação de cheques é feita em 24 horas. Este é um exemplo significativo da eficiência e agilidade do sistema.
Além disso, os bancos oferecem para seus clientes e usuários uma sofisticada e eficiente tecnologia, como sistemas de informática, teleprocessamento, caixas eletrônicas e até canais de satélite, por exemplo. Esses recursos possibilitam a prestação de serviços de alto nível, mas que, obviamente, têm um custo elevado. Sem cobrar tarifas -num país que, felizmente, estancou a inflação-, os bancos não teriam como arcar com esses custos e, portanto, ficariam impossibilitados de prestar os serviços hoje disponíveis.
É preciso considerar também que as tarifas bancárias são cobradas com um critério bastante justo. Ou seja, quem usa paga. O correntista que emite muitos cheques, grande parte deles com valor extremamente baixo, por exemplo, pagará mais do que aquele que utiliza o talonário com mais parcimônia. É importante, neste momento de adaptação à nova realidade brasileira, a conscientização dos correntistas e usuários, no sentido de que racionalizem a utilização dos serviços bancários, buscando uma boa relação custo/benefício.
Num momento em que a globalização da economia é uma realidade presente e irreversível, não se pode esquecer que, em todo o mundo, são cobradas tarifas bancárias. O Brasil, nos tempos da inflação, é que estava na contramão de um processo absolutamente corriqueiro no sistema financeiro internacional.

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