São Paulo, sábado, 24 de agosto de 1996
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O rega-bofe

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - A dois anos e meio das próximas eleições presidenciais, a classe política, na qual está embutida a classe administrativa do país, só pensa naquilo. Há um coquetelzinho para esquentar os motores, em forma de eleição municipal. O que interessa é o rega-bofe que será servido depois.
Para desgraça de todos nós, dependemos de uma administração que não é profissional: é de "confiança". Os principais administradores da máquina governamental são acima de tudo, e exclusivamente, políticos de carreira. A prioridade deles é outra. Detestam aquilo que chamam de "papelada". Memorando com mais de cinco linhas é para não ser lido.
Daí que quando surge uma vaga nos escalões superiores, ela é leiloada entre as forças políticas. O mesmo cidadão, desde que esteja enturmado com a classe que conta, pode ser ministro das Relações Exteriores (FHC o foi), do Meio Ambiente, dos Transportes, da Educação, do Combate à Saúva -creio que ainda não exista tal ministério, mas se for necessário ao loteamento do poder, ele será criado sob a alegação de modernidade.
Tome-se o ministro das Comunicações, por exemplo. Gasta cinco vezes o tempo integral de que um mortal dispõe para dar uma força aos candidatos do PSDB às prefeituras. Evidente que é um técnico atento à sua pasta: acaba de fazer um acordo com os pastores da Igreja Universal.
Foi um trabalho pertinente: ele está no Ministério das Comunicações para isso mesmo. Entende pra burro do assunto, desde criancinha que é uma sumidade em comunicações. Podia estar no Ministério dos Recursos Hídricos -também entende do assunto desde criancinha-, infelizmente, os donos desses grotões eleitorais não se interessam pela salubridade dos nossos rios.
Dei o exemplo do Sérgio Motta, mas podia arrolar quase todo o ministério de FHC na mesma categoria. A começar pelo próprio FHC.

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