São Paulo, domingo, 25 de agosto de 1996
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Pecuaristas evitam fama de Mezenga

ELAINE GUERINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Nunca chame um pecuarista de rei do gado -a não ser, é claro, que você esteja procurando encrenca. Desde que Bruno Mezenga (Antônio Fagundes) assumiu a condição de marido traído na trama de Benedito Ruy Barbosa, os fazendeiros na vida real rejeitam a coroa e encaram o termo como um insulto.
"É o mesmo que chamar o outro de corno", afirma Sylvio Lazzarini, 46, ex-presidente da Associação Brasileira dos Confinadores de Gado. "Só aceito ser chamado de rei do gado mocho", brinca, referindo-se ao animal que perdeu ou nasceu sem chifre.
Segundo Lazzarini, a fazenda do personagem-título da novela "O Rei do Gado" conta com "cem mil bois e uma vaca". Obviamente, a piada foi inspirada em Léia, a mulher que Bruno flagrou na cama com o amante -os papéis são vividos por Silvia Pfeifer e Oscar Magrini.
"Qualquer homem pode ser traído. É por isso que a idéia incomoda tanto", diz Leonardo de Andrade, 34, dono de 8.000 cabeças de gado em fazendas no Pará, em Minas e no Acre.
Machismo
O problema se agrava, segundo o pecuarista Marcelo Ferraz, 38, devido ao machismo dos brasileiros. "Damos muita importância a isso. O homem não consegue admitir quando uma mulher lhe coloca um par de chifres", diz o fazendeiro, proprietário de 9.000 cabeças de gado na Bahia.
Alguns pecuaristas chegam a afirmar que a trama ficaria mais verossímil se Bruno tivesse uma amante enquanto ainda estava morando com Léia. É o caso de Antonio de Oliveira Pereira, 66, presidente do conselho consultivo do Sindipec, Sindicato Nacional dos Pecuaristas.
"Nas famílias de fazendeiros, é mais comum encontrar homens que têm filiais e não mulheres. Isso acontece devido à nossa criação", revela.
Pereira destaca ainda que os filhos de pecuaristas não costumam ser "destrambelhados" como Marcos (Fábio Assunção) e Lia (Lavínia Vlasak), os herdeiros de Bruno. "Costumamos impor princípios rígidos."
Victor Abou Nehmi Filho, 38, dono de cerca de mil cabeças de gado, diz que a traição é resultado do conservadorismo na sociedade agrária. "Não interessa se o casamento vai bem ou não. Dificilmente, os casais se separam."
Imagem
Mas reconhecer que os amantes existem é uma coisa, e aprovar uma novela que mostra um pecuarista "chifrudo", em pleno horário nobre da Globo, é outra. "Isso não fere a nossa imagem, mas a verdade é que a maioria dos fazendeiros não gostou", conta Nehmi Filho.
O único atenuante da situação é o relacionamento de Bruno com Luana, a bóia-fria interpretada por Patrícia Pillar. "Quem é que não queria uma mulher como ela?", ressalta Sylvio Lazzarini. "Se uma bóia-fria tão linda aparecesse na minha fazenda, eu não pensaria duas vezes."

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