São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 1996
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Governo dá prioridade a técnica no país

AURELIANO BIANCARELLI
DO ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

A aplicação no Brasil da nova técnica que pode reduzir para até 2% o número de filhos de soropositivas que nascem com o vírus da Aids é prioridade para Ministério da Saúde.
A afirmação foi feita ontem por Adauto Castelo, da Universidade Federal de São Paulo, que coordena o Projeto de Transmissão Vertical, patrocinado pelo ministério.
Um grande estudo coordenado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e batizado de Petra já está em andamento na África do Sul, Uganda e Tanzânia.
Segundo Castelo, o Brasil entrará no pesquisa assim que forem escolhidos os centros de estudo.
"Trata-se de uma prioridade determinada pela coordenadora do programa nacional de Aids, Lair Guerra de Macedo", disse o professor. Lair, que sofreu um acidente de carro na segunda-feira, está internada em estado grave em Recife (PE), onde acontece o 9º Congresso Brasileiro de Infectologia.
A prioridade se deve ao fato de as mulheres jovens formarem o grupo de infectados que mais cresce.
O projeto Petra é uma adaptação para países pobres do estudo feito pelos EUA e Austrália em grávidas portadoras do HIV.
Nessa pesquisa, as grávidas tomavam AZT a partir da 20ª semana de gestação, recebiam AZT durante o parto, e o bebê continuava a tomar a droga por dois meses. A transmissão caiu de 25% para 8%.
No entanto, a OMS constatou que nos países em desenvolvimento as mães portadoras só chegavam ao serviço de saúde às vésperas do parto.
Para compensar o atraso, o projeto Petra passou a aplicar duas drogas associadas (AZT e 3TC) a duas semanas do parto.
Na hora do parto, a mãe recebe a mesma combinação, e o bebê é tratado com as duas drogas por dois meses.
"O estudo dirá se a associação de medicamentos em um espaço menor de tempo garantirá às gestantes o nível suficiente de proteção", afirma Castelo.
"A preocupação imediata é mapear a situação da transmissão vertical do HIV no Brasil", diz.
Segundo o professor, estudos com várias outras combinações de drogas em gestantes e bebês estão sendo conduzidos na Europa e EUA com o objetivo de zerar a infecção por transmissão vertical.
O uso do coquetel em grávidas infectadas (AZT, 3TC e um inibidor de protease) também está sendo estudado. "Mas, por enquanto, o coquetel na gravidez ainda é uma grande interrogação", diz.

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