São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 1996
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Rombo (verdadeiro) da crise (falsa) dos bancos

ALOYSIO BIONDI

O governo resolveu demonstrar, com números, que o socorro aos bancos Nacional e Econômico, com os R$ 13 bilhões desembolsados pelo Proer, terá custo insignificante para o Tesouro, além de evitar fabulosos prejuízos à economia, como os registrados em outros países.
O raciocínio governamental, exposto por dois representantes do Ministério da Fazenda, tenta provar que os prejuízos possíveis do Banco Central -e, portanto, do Tesouro- não passarão, conforme as hipóteses, de 0,5% a 1% do PIB (por limitações de espaço, não é possível detalhar as formas de cálculo desses custos).
A comparação com o PIB faz o custo do "socorro" parecer uma ninharia. Mas, em dinheiro vivo, está se falando de R$ 3,9 bilhões a R$ 7,2 bilhões.
Ou, neste último caso, o equivalente a sete vezes o R$ 1 bilhão que o governo anunciou para empréstimos a 5 milhões de famílias de produtores agrícolas (e que deverão ser devolvidos, ao contrário dos prejuízos, que nunca serão recuperados).
Ou para crédito aos exportadores (idem, ibidem). Ou para refinanciamento das dívidas dos pequenos e médios empresários (idem, ibidem).
Além do mais, a verdade é que as contas do governo falam apenas nos prejuízos possíveis com os empréstimos do Proer.
Deixam de lado os custos "ocultos" de outras "operações socorro" ao mercado financeiro, também da ordem de bilhões de reais, com prejuízos diretos e indiretos para o Tesouro. Somadas aos R$ 13 bilhões do Proer, essas "injeções" chegaram a quase R$ 40 bilhões.
Antes de dissecar esses números, há necessidade de um lembrete: os balanços dos bancos em 1995 apresentaram lucros belíssimos, muito acima dos padrões internacionais. No primeiro semestre deste ano, a mesma coisa.
Não há, portanto, crise bancária generalizada. Assim, a comparação com outros países é um sofisma.
Ninharia, não
Juntos, todos os Estados brasileiros, excluindo São Paulo, arrecadam uns R$ 18 bilhões por ano, em ICMS, dos quais 25%, ou R$ 4,5 bilhões, são entregues aos municípios.
Restam, aos Estados, algo como R$ 12,5 bilhões. Para o ano inteiro. Os R$ 7,2 bilhões de prejuízos do Proer equivalem a sete ou oito meses do ICMS de todos os Estados, menos São Paulo.
Na surdina
O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, por ordem do governo, chegaram a emprestar R$ 6 bilhões a R$ 8 bilhões, cada um, nas operações de apoio aos bancos no chamado mercado interbancário.
Tiveram prejuízos "não-medidos" com essas operações, pois receberam taxas de juros (3% a 4% ao mês) muito mais baixas do que poderiam cobrar em operações normais (até 12% ou mais no cheque especial ou crédito ao consumidor, por exemplo). Prejuízos de 8% ao mês ou R$ 480 milhões sobre R$ 6 bilhões ou R$ 960 milhões sobre R$ 12 bilhões. Ao mês.
Podres
Aproveitando-se do Proer, o Banco Central "pagou", a quatro grandes bancos privados, R$ 7 bilhões por créditos do Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS).
Desse total, nem R$ 1,5 bilhão estava vencido. Os R$ 5,5 bilhões excedentes o Tesouro somente deveria pagar ao longo dos próximos dez ou 15 anos.
Ao fazer pagamentos antecipados, o Tesouro precisou buscar dinheiro no mercado, a juros mais altos, com a venda de títulos.
Banco Central
Tradicionalmente, o BC apresentava lucro anual na faixa de R$ 12 bilhões, que entregava ao Tesouro, isto é, representava uma receita extra do governo.
Em 1995, o BC teve prejuízo de R$ 6,5 bilhões. Isto é, rombo de R$ 18,5 bilhões, quando combinadas as duas cifras.
Soma final
O rombo de R$ 18,5 bilhões do BC e os R$ 7 bilhões do FCVS devem ser somados aos R$ 13 bilhões do Proer, para avaliação das dimensões do "apoio" ao mercado financeiro. São R$ 38,5 bilhões, sem falar nos prejuízos do BB e da CEF.
Mais do que os gastos da Previdência. Ou as despesas com o funcionalismo. No ano. Os bancos, com seus altos lucros, agradecem.

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