São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Reading Festival consagra união de todas as tribos

LÚCIO RIBEIRO
EM READING (INGLATERRA)

Se você quer saber qual é o estado das coisas do rock and roll da década de 90, analise a cena:
Reading Festival, Inglaterra, por volta das cinco da tarde da última sexta-feira.
Um garoto local veste a camiseta do grupo punk californiano Offspring e, enquanto seu grupo preferido não toca, balança a cabeça ensandecido no show hip hop político do americano Ice T.
Final da apresentação do rapper, ainda dá tempo para o menino correr ao palco secundário e ver o pop acústico dos ingleses do Drugstore.
E, como é cedo para o Offspring, o inglesinho dá uma escapada até o espaço reservado para a dance music e chacoalha o esqueleto ao som bate-estaca de milhares de bpm.
O festival da cidade inglesa de Reading, realizado sexta, sábado e domingo passados, consagrou a união das tribos. Ou a diluição delas.
Segundo o novo comportamento inglês, é normal torrar dinheiro em CDs de bandas noise, punk, rap, dance, pop, tecno. Tudo ao mesmo tempo.
A tendência, que já vem acontecendo há algum tempo nos clubes londrinos, onde os DJs botam Prodigy, Nirvana e Oasis na mesma seleção sem esvaziar a pista, foi a tônica deste ano do maior encontro de bandas do planeta.
Parece que a mesma bala que atravessou o crânio de Kurt Cobain há dois anos, e deixou sem rumo o rock dos anos 90, atingiu também o Reading Festival 96.
Goste-se ou não da pluralidade, digamos, do rock, o tradicional evento de três dias que anualmente dobra a população da cidade de Reading serviu para revelar ou reafirmar ao vivo algumas das mais badaladas bandas da atualidade.
Na categoria "grandes shows", Offspring, Weezer, Sonic Youth, Flaming Lips, Black Grape, Wedding Present, Butthole Surfers.
Outra boa apresentação, sem afetações, foi a do Garbage, a banda da hora do rock, que travestiu de barulho o bem-comportado som do primeiro álbum do grupo.
O Reading serviu também para deixar em suspenso o futuro dos ingleses do Stone Roses, a banda que tinha tudo para ser no começo da década o que o Oasis é hoje se não tivesse sua trajetória interrompida por questões judiciais com a antiga gravadora.
Pai do britpop -se considerarmos que os Beatles foram os avôs e o Oasis, o filho-, o Stone Roses fez sua primeira aparição no Reino Unido sem o guitarrista John Squire, ex-alma da banda.
Se em momentos o Stone Roses chegou a emocionar a enorme legião de fãs que assegurou com o primeiro disco, de 89, ficou visível que o vocalista Ian Brown não mostra mais a empolgação dos shows do começo da década.

Texto Anterior: Carreño brilha na estréia do American Ballet Theatre no Rio
Próximo Texto: "Le Cri du Camélon" traz Alfred Jarry
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.