São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 1996
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"Le Cri du Camélon" traz Alfred Jarry

ERIKA SALLUM
FREE-LANCE PARA A FOLHA

No ano passado, o diretor e coreógrafo Josef Nadj uniu seus conhecimentos de dança às técnicas circenses da Compagnie Anomalie, formada por dez artistas saídos do Centro Nacional das Artes do Circo, na França.
O resultado desse encontro pode ser visto a partir de hoje no 6º Festival Internacional de Artes Cênicas (Fiac): "Le Cri du Caméléon", que fica em cartaz até o dia 2 de setembro, no Circo Escola Picadeiro, em São Paulo.
Após familiarizar o grupo ao mundo da dança -por meio de aulas, coreografias e workshops-, Nadj escolheu o tema do espetáculo: o universo absurdo de Alfred Jarry ("Ubu"). O diretor faz questão de assinalar que, apesar de "Le Cri du Caméléon" estar centrado em um único texto de Jarry, "O Supermacho", a montagem tem a atmosfera da vida e da obra do escritor francês.
"Este foi o texto de Jarry que eu achei mais utilizável, já que ele não possui argumento", disse Nadj, durante entrevista coletiva.
Observando os movimentos acrobáticos dos integrantes da Compagnie Anomalie, o coreógrafo pôde se aprofundar no "mito do supermacho, do super-homem ": "as acrobacias dos artistas fizeram com que eu me lembrasse de Ícaro que, assim como Hércules, tenta a todo momento superar seus limites.
"Além disso, a própria figura de Jarry me deu base para abordar o tema", completa.
Nadj revela que foi muito fácil trabalhar com artistas de circo, devido a sua precisão e seu senso apurado para novas propostas de dança. "Eles aprenderam rapidamente."
Thomas Van Under, um dos dez artistas da companhia, acrescenta que o grupo já havia trabalhado com outras formas artísticas antes. "A coreografia de Nadj veio aprofundar isso", diz ele.
Além de números de trapézio e cama elástica, o elenco também vai tocar instrumentos -criados por eles próprios a partir de tubos, regadores e outros materiais.
"Les Frères Zénith"
Outra montagem francesa estréia hoje no Fiac: "Les Frères Zénith", de Jérôme Deschamps, que fica em São Paulo só até sábado.
Fugindo dos clássicos padrões teatrais franceses, os personagens de Deschamps são, antes de tudo, "pessoas comuns", segundo o próprio diretor.
Seu trabalho é baseado nos clowns e musicais anglo-saxônicos. "Meus personagens são como mendigos vestidos com restos de figurinos dos 'music halls'. A platéia fica em dúvida se eles, no passado, foram grandes artistas", explica.

Peça: Le Cri du Caméléon
Direção: Josef Nadj
Quando: de hoje a 2 de setembro, às 21h
Onde: Circo Escola Picadeiro (av. Cidade Jardim, 1.105, tel. 829-1442)
Quanto: R$ 25

Peça: Les Frères Zénith
Direção: Jérôme Deschamps e Macha Makeieff
Quando: de hoje a 31 de agosto, às 21h
Onde: teatro Anchieta (rua Dr. Vila Nova, 245, tel. 256-2281)
Quanto: R$ 25

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