São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 1996
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O CURRÍCULO E A ÉTICA

Quando a principal crítica que se faz ao governo federal diz respeito à sensação de paralisia que transmite, é saudável que o Ministério da Educação demonstre iniciativa, ao propor mudanças curriculares para incluir ética e educação sexual no ensino de primeiro grau.
No caso da educação sexual, os argumentos usados pelo ministro Paulo Renato são contundentes: 1 milhão de adolescentes por ano engravidam sem o desejar e um número elevado é contaminado pelo vírus da Aids. Em ambos os casos, o problema principal é falta de informação.
É claro que cabe discutir que tipo de educação sexual se pretende dar, porque sempre há o risco de que se confunda a informação, obviamente indispensável, com o mero aguçamento da curiosidade pelo sexo, natural nessa faixa etária.
Passa por esse aspecto a principal faceta controversa das medidas. É sabido que um número absurdamente alto de professores de primeiro grau está despreparado para suas funções. Muitos nem sequer têm diploma de primeiro grau.
Sofisticar o currículo, mas deixar sua execução a pessoas despreparadas pode levar a resultados inversos aos desejados.
É claro que o Ministério da Educação não pode ficar paralisado, à espera de que ocorra uma ampla reciclagem dos quadros docentes.
De todo modo, convém ponderar que a desejável sofisticação do currículo não deve afastar o ministério da prioridade essencial: manter a criança na escola, ainda que o currículo seja apenas o básico.
A estatística mostra que menos de 60% das crianças que ingressam no curso básico concluem a 4ª série.
É indispensável, portanto, criar as condições necessárias para mudar esse cenário já bastante vergonhoso. Se, paralelamente, for possível também sofisticar o currículo, tanto melhor. Mas que não se caia numa hiperatividade só para demonstrar que não é todo o governo que passa a sensação de paralisia.

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