São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 1996
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A MONTANHA MÁGICA

Houve uma época em que um diagnóstico de tuberculose como que equivalia a uma sentença de morte. Há 40 anos, com a descoberta da estreptomicina, a humanidade julgou-se livre dessa chaga.
Paradoxalmente, a simplicidade do tratamento (hoje feito com um coquetel de antibióticos) vem levando a um recrudescimento da doença. Em todo o mundo, segundo números da OMS, a moléstia já matou 40 milhões de pessoas nos últimos 15 anos, o equivalente à população da Itália. A organização calcula ainda que, entre 90 e 99, 88 milhões contraíram ou contrairão a tuberculose.
Falhas na vigilância epidemiológica vêm levando ao surgimento de cepas de Mycobacterium tuberculosis resistente aos tratamentos convencionais. É que a medicação tem de ser continuada por pelo menos seis meses, mas como não há um controle adequado a população suspende o tratamento assim que se livra dos sintomas. O resultado é que o bacilo deixa de responder à medicação ou passa a exigir uma terapêutica mais complexa e com piores resultados.
Apesar de associada principalmente a más condições de moradia e alimentação, o tratamento contra a tuberculose é extremamente barato. Sai por cerca de R$ 50 a R$ 80. Segundo a OMS, é o mais rentável em termos de relação custo-benefício. Em Nova York, com um investimento de US$ 100 milhões, conseguiu-se, em cinco anos, baixar o número de casos pela metade. A receita é simples: treinamento de pessoal e acompanhamento dos doentes.
A associação da Aids com a tuberculose (que já responde por cerca de 10% dos casos) também vem dificultando a ação de autoridades, seja pelo surgimento de moléstias por Mycobacteria não-tuberculosas seja pela manifestação de formas excêntricas da doença, ambas de diagnóstico mais complexo.
Um aprimoramento da vigilância sanitária nessa área é um imperativo. O Brasil, infelizmente, ainda é capaz de fazer conviverem doenças típicas de Terceiro Mundo com as de Primeiro. O resultado, todos conhecem.

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