São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
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UDR do Pontal vai combater sem-terra

LUIZ MALAVOLTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MIRANTE DO PARANAPANEMA

Cerca de 300 fazendeiros das regiões de Presidente Prudente, Araçatuba e Barretos, reunidos ontem de manhã na fazenda Santa Rita, em Mirante do Paranapanema (a 640 km a oeste de São Paulo) anunciaram a recriação a UDR (União Democrática Ruralista).
O objetivo é fazer frente às invasões organizadas pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Também em uma demonstração de força, cerca de mil sem-terra concentrados em frente à fazenda Santa Rita fizeram uma manifestação pedindo mais rapidez na reforma agrária.
Enquanto os fazendeiros anunciavam a nova UDR, a cerca de 60 quilômetros dali o líder dos sem-terra na região, José Rainha Jr., comandou 700 homens numa invasão à fazenda Vale Grande, em Euclides da Cunha (760 km a oeste de São Paulo).
Os fazendeiros chegaram à fazenda Santa Rita, pertencente ao pecuarista Marcelo Negrão, em cem veículos, vindos de Presidente Prudente (a 558 km a oeste de SP). A Polícia Militar montou uma espécie de cordão de isolamento em frente à entrada da fazenda para dar-lhes proteção.
Os policiais fizeram o bloqueio da rodovia que liga Teodoro Sampaio a Sandovalina, identificando os ocupantes dos veículos.
O pecuarista Roosevelt Roque dos Santos foi indicado pelos fazendeiros como o presidente provisório da nova UDR, que terá sua sede nacional em Presidente Prudente. Santos era o presidente da UDR em 91, quando a entidade foi dissolvida. A formalização da entidade será feita durante esta semana.
"Vamos cobrar do governo, via UDR, um basta ao desrespeito da lei. Reforma agrária não é expropriação de patrimônio particular", afirmou Santos.
Para ele, o governo de São Paulo está tendo uma "atuação nefasta" na condução da reforma agrária na região do Pontal do Paranapanema.
O coordenador estadual do MST, Felinto Procópio, o Mineirinho, disse que a criação da UDR não intimida os sem-terra. "A sociedade conhece bem a UDR e seus métodos violentos. Cabe às autoridades tomar as medidas para impedir que a UDR faça vítimas pelo país", declarou Mineirinho.
Santos disse que a decisão do fazendeiro Negrão de manter na Santa Rita seguranças armados para impedir invasões é uma atitude de defesa do patrimônio. "Os banqueiros mantêm seguranças armados protegendo suas agências e ninguém reclama disso. É claro que nenhum fazendeiro vai desrespeitar a lei ao manter seguranças em suas propriedades", acrescentou.
Racha
A recriação da UDR no Pontal aprofunda o racha existente entre produtores rurais e a atual diretoria do Sindicato Rural de Presidente Prudente na condução dos assuntos sobre reforma agrária.
O vice-presidente do sindicato, Joel Amaro Mascarenhas, disse que os membros da nova UDR são dissidentes do sindicato e, portanto, agem "à revelia" da diretoria.
"O sindicato tem se pautado no trabalho de amplo diálogo, tanto com o governo quanto os sem-terra. Esse grupo quer outros caminhos e não tem o nosso endosso", disse Mascarenhas.
Ele considera imprudente o fato de o fazendeiro Marcelo Negrão ter contratado seguranças armados para proteger a Santa Rita.

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