São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
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Depressão tira funcionário do trabalho

NOELLY RUSSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os distúrbios mentais ameaçam encurtar a carreira dos brasileiros. Alcoolismo, depressão e transtornos da ansiedade hoje são responsáveis por faltas no trabalho e até por aposentadorias precoces.
Nos EUA, onde esses distúrbios vêm sendo pesquisados, a depressão é a segunda maior causa de ausência no trabalho. Só fica atrás de problemas cardíacos (veja quadro). Os gastos e prejuízos chegam a US$ 43 bilhões por ano.
No Brasil, ainda não há estatísticas sobre o prejuízo causado pela depressão. Os psiquiatras acreditam que um quadro semelhante ao americano exista no país.
"Estima-se que 15% das aposentadorias precoces estejam relacionadas a distúrbios psiquiátricos", diz o Jair Mari, diretor do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo.
O Ministério da Previdência não possui dados sobre aposentadorias precoces por causas psiquiátricas. "A psiquiatria não aparece na mortalidade, por isso não existem dados disponíveis", diz Mari.
Segundo ele, os custos incluem consultas e medicamentos. "Sem tratamento, o custo aumenta. O deprimido falta ao trabalho ou tem capacidade de produção reduzida. O mau diagnóstico faz com que ele, ou o Estado, gaste com exames e medicamentos inadequados."
Beny Lafer, 33, diretor do Grupo de Estudos de Doenças Afetivas do Hospital das Clínicas da USP (Gruda), aponta a depressão como um dos distúrbios mais comuns entre os frequentadores do Gruda.
"Muitas pessoas têm sua capacidade produtiva reduzida ou não conseguem trabalhar. Outros nem saem de casa." Segundo ele, os sintomas aparecem e desaparecem.
"Quem já passou por uma crise depressiva tem 50% de chances de recaída. A probabilidade é de mais de 90% se houve três crises ou mais. Nesses casos, o tratamento não deve ser interrompido", diz.

Estimativa "No Brasil é possível estimar que em cada família exista um indivíduo com algum distúrbio psiquiátrico. É possível estimar que mais de 20% da população brasileira tenha algum distúrbio", diz Valentim Gentil Filho, 50, presidente do Conselho Diretor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.
O instituto está fazendo um levantamento, coordenado por Gentil, em Pinheiros (zona oeste), que deve ser um indicativo da amplitude dos distúrbios psiquiátricos na cidade de São Paulo.
O instituto prepara um documento para o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) mostrando que não tratar doenças mentais pode atingir custos muito altos.
Segundo Lafer, apenas um décimo dos casos de depressão é diagnosticado no país. "Em geral, as depressões são tratadas por clínicos gerais." "Ainda há preconceito. Se um funcionário precisa de licença por pneumonia, os patrões entendem. Se precisar dos mesmos dias por conta de uma depressão, será cobrado", diz Lafer.
Valentin Filho diz que uma das grandes mudanças no tratamento de distúrbios psiquiátricos é a postura de que o depressivo está doente e não representa incapacidade. "Hoje, sabe-se que a depressão é uma doença que não tem origem na incapacidade do paciente. Deve ser tratada como outro mal."
A Universidade Federal do Rio de Janeiro mantém há três anos curso sobre psiquiatria e doenças mentais para estudantes que não vão se especializar em psiquiatria.
"Não há psiquiatras suficientes. Por isso, os clínicos precisam saber como diagnosticar e tratar as doenças", diz o psiquiatra e professor Antonio Egidio Nardi, que lançou um livro sobre o assunto.

LEIA MAIS sobre distúrbios psiquiátricos à pág.8

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