São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
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Margem no crediário cai, mas ainda é alta

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

O spread (diferença) entre o custo de captação do dinheiro e as taxas de juros cobradas dos consumidores caiu de um ano para cá, mas continua extremamente elevado para um país que já entrou na inflação anual de dois dígitos.
Tomando por base o CDI (Certificado de Depósito Interbancário) como custo de captação e as grandes cadeias de lojas do país como juro médio do crediário, o spread caiu de 8,94% ao mês em agosto de 95 para 5,48% no mês passado.
Em agosto de 95, conforme pesquisa da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), as grandes cadeias de lojas cobravam, em média, 13,09% ao mês.
Naquele mês, o CDI fechou em 3,81%, o que indicava spread de 8,94% mensais (179,41% ao ano).
As taxas de CDBs e letras de câmbio, embora prefixadas, não têm ficado muito longe do CDI. A captação via CDBs pode ser até mais barata, dependendo do perfil do banco e da clientela.
No mês passado, com CDI em 1,95% e taxa média de 7,54% ao mês nas grandes redes, o spread poderia ser estimado em 5,48% mensais, ou 89,69% ao ano.
A queda foi sensível, pelo menos nessa comparação, mas o spread ainda embute juro real em torno de 70% ao ano considerando inflação projetada de 12% e juros primários em tendência declinante.
Negócio lucrativo
Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac, diz que "poucas vezes na história o comércio ganhou tanto com juros".
Ele argumenta que grande parte das lojas que vendem produtos importados consegue financiamento direto do exportador com prazo de seis meses a um ano e juros de 4% a 6% ao ano, mais variação cambial (prevista em 7,5%).
Grandes empresas obtêm financiamento no exterior entre 8% e 10% ao ano, acrescenta Oliveira. Pela resolução 63, empresas médias conseguem, segundo ele, captar a juros de até 30% ao ano.
No balcão de bancos nacionais, afirma, muitas empresas descontam duplicatas a juros de 2,8% ao mês (39,29% ao ano) e cobram de 7% a 10% na venda a prazo.
O consumidor, por seu lado, diz Oliveira, ignora totalmente quanto paga de juros e quase sempre é mal-informado sobre as taxas.
Para ele, as lojas estimulam a venda a prazo justamente porque é na operação financeira que elas fazem lucro. Vendendo à vista, o dinheiro seria aplicado a menos de 2% ao mês, enquanto no financiamento os juros vão de 4,85% (veículos) a 14,33% (média observada em lojas de artigos de ginástica).
O juro médio cobrado pelo comércio, de acordo com a Anefac, era de 10,05% em agosto passado, contra 14,85% um ano atrás.

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