São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
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Confira quanto pagam os consumidores nos EUA

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

A diferença entre taxas de captação e de empréstimos para pessoas físicas não é tão baixa nos EUA, pelos padrões daquele país. Os norte-americanos se assustam, porém, quando são informados de que no Brasil são cobrados juros de 7% a 10% ao mês.
Para uma inflação anualizada em torno de 3% e captação em depósitos a prazo na faixa de 3% a 4% ao ano, via "time deposits", os CDBs de lá, bens de consumo duráveis são financiados na faixa de 10% a 12%, informa Emilio Volz, executivo financeiro que trabalha num banco internacional em Miami.
A prime rate, juro de referência para clientes preferenciais, está em 8,25% ao ano, e o interbancário (juro entre bancos), em 5,18%.
Financiamento em cadeias de lojas tem juro médio nominal de 21% ao ano, o que corresponde a uma taxa efetiva de 23,14% e real (sobre uma inflação anual de 3%) de 19,55%. No Brasil o juro real fica próximo de 100%.
Nos EUA como no Brasil, lembra Volz, o custo em geral é mais elevado quando se financiam bens de valor unitário mais baixo (geladeiras, televisores, móveis etc.).
Automóveis comprados em revendas ligadas às fábricas, explica Volz, são financiados nos EUA em cerca de 6% ao ano, com 6,17% de taxa efetiva e 3,08% de taxa real.
Esses juros são mais baixos porque as empresas lutam para escoar seus produtos e, particularmente no mercado de carros, a competição é acirrada. A operação financeira complementa a comercial. Ganha-se no giro dos estoques, com algum spread financeiro.
Nos cheques especiais os bancos norte-americanos cobram, em média, 10% nominais ao ano, com taxa efetiva de 10,47% e real de 7,25%, informa o executivo.
Os cartões de crédito praticam taxas mais elevadas, em torno de 17% nominais ao ano (18,39% efetivos e 14,94% reais), mas, segundo Volz, a explicação para isso está no fato de as administradoras tentarem cobrir, com o juro, os custos que elas têm com os clientes (a maioria) que pagam suas faturas à vista.
Volz esclarece, contudo, que o sistema financeiro norte-americano funciona de forma diferente.
Não existem, por exemplo, compulsórios (dinheiro captado do público que é depositado no BC) como no Brasil, que encarecem o crédito. Como há mais depósitos à vista lá do que aqui, boa parte do "funding" dos bancos nos EUA tem custo praticamente zero.
Os próprios investidores em CDBs de prazo mais curto, por exemplo, obtêm ganho real praticamente nulo, pois a inflação está no patamar de 3% ao ano e essas aplicações pagam de 3% a 4%. Importante é preservar o capital.
Para obter juro maior (5% a 7%) e ganho real o norte-americano aplica em títulos públicos de longo prazo, de até 30 anos, embora nem todos tenham cacife financeiro para participar desse mercado.

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