São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
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Prazer e frustração

SÍLVIO LANCELLOTTI

Questão de postura e educação: se Eurico Miranda está contra a nova Lei do Passe no Brasil, sou integralmente a favor. De todo modo, não acho que mude muita coisa no futebol do país o texto que o ministro Pelé apresentou ao governo federal na última semana.
O futebol do país anda tão pobre e dilapidado na quantidade do dinheiro e na qualidade de dirigentes que me parece inevitável o êxodo constante de seus maiores astros ao exterior.
Nenhum clube, nem o poderoso Palmeiras-Parmalat, dispõe de grana para mantê-los.
Li, via Internet, que os cartolas do Velho Continente estão insatisfeitos com os resultados financeiros da primeira jornada dos torneios locais, ou seja, Copa dos Campeões, Recopa e Copa da Uefa.
Obtiveram "apenas" média de público de 33 mil espectadores. A média de renda ficou "somente" na casa dos US$ 650 mil. Que tristeza, não?
Enquanto isso, os dois times, teoricamente, de maior torcida no Brasil, Flamengo e Corinthians, desafiam-se diante de 12 mil abnegados...
De volta à nova Lei do Passe, todavia, gostaria de conhecer o gênio que limitou ao máximo de três anos a duração dos contratos entre as equipes e os atletas.
Não se trata de uma simples aberração, provavelmente inconstitucional. Muito mais: trata-se de uma estupidez.
Além de cercear a liberdade de acordo entre o empregado e o patrão, tal norma determina um prazo para o fim da paixão e da idolatria.
Agora, as já desprezadíssimas torcidas ficarão sabendo, por antecipação, quando seus elencos preferidos se desmancharão.
O gênio do texto estabeleceu uma pré-fronteira entre o prazer e a frustração. Parece-me supinamente mais sábio subir de três meses a um ano o prazo mínimo dos contratos, que pressupõem um tempo de obrigações e responsabilidades.

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