São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
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A igreja dos subGenius e o bispado virtual

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

No final dos anos 70, quando a América já havia dado adeus aos movimentados -e muitas vezes confusos- anos da contracultura, Ivan Stang, ao lado de seu melhor amigo, Philo Drummond, teve uma iluminação.
O que nas religiões antigas era descrito como um raio cortando um céu ensolarado, uma caminhada sobre as águas ou a luta contra o demônio no deserto, em Stang tomou outra forma: uma propaganda, encontrada em um anúncio das páginas amarelas, com um desenho típico dos anos 50.
Stang e Drummond encontravam BOB, que se tornaria o messias, profeta, santo e pastor supremo de uma nova religião americana: o subGenius.
Uma religião para ser contra todas as religiões, nas palavras de seus próprios criadores, os subGenius nasceram de uma ação, ou mentalidade, tipicamente norte-americana: se você não está satisfeito com a crença que lhe é oferecida, crie uma.
Contra as constantes exigências de eficiência profissional e os excessos do capitalismo, Stang oferecia sua saída mística: a preguiça.
Para um membro da igreja dos subGenius, a primeira grande obrigação é não rejeitar o sentimento básico de que o trabalho, definitivamente, não enobrece nem conduz ao aprimoramento espiritual. Apenas cansa.
O que é Meca para o muçulmano ou a cruz para um cristão, assim é a lentidão para os subGenius.
Em apenas 20 anos os subGenius, que começaram como uma grande piada (popularizada em histórias em quadrinhos da região do Texas), se tornaram, graças à Internet, um dos mais populares cultos da América.
O rosto de BOB, a risonha e exemplar figura dos anos de abundância dos EUA pós-Segunda Guerra, com um sorriso que representa ao mesmo tempo conformismo e satisfação material, passou a ser visto em telas, camisetas e pequenas reuniões por todo o país.
BOB traz a mensagem de que todos podem ser salvos pelo relaxamento, uma idéia desenvolvida após seu encontro com seres alienígenas que lhe passaram "a palavra" em um encontro na Terra.
BOB diz que existe um complô universal das "pessoas normais" -os medíocres- para sufocar os anormais, os subGenius. BOB diz que "normal" é todo aquele de quem você não gosta.
BOB fala ainda que qualquer doação, em nome de Ivan Stang, será bem-vinda, acrescentando que oferece "Salvação Eterna ou seu dinheiro de volta. Triplicado". Stang vive hoje das quantias que recebe dos fiéis e dos eventos -como um circo- que levam a palavra de BOB pelo país.
Além dos inúmeros sites na rede mundial, dois livros já foram publicados tentando dar conta do fenômeno: "Book of the SubGenius" e "Revelation X", de autoria dos próprios criadores do culto.
Sobre a seriedade de seu credo, Stang disse à imprensa americana que, se alguma das religiões existentes no mundo deve estar com a razão, por que não pode ser a dos subGenius?
Partenia
A história do bispado de Partenia se inicia com um incidente na rue du Dragon, na mítica margem esquerda do Sena. Em um prédio abandonado, vários "cidadãos sem moradia" ocuparam o lugar.
Interessado na situação dos desfavorecidos, Gaillot decidiu também fixar residência no edifício. Sua justificativa era que "eles estavam excluídos da mídia", por isso ele conduziria jornais e TVs até os injustiçados.
Foi tão eficaz em sua ação que o próprio papa João Paulo 2º achou que havia publicidade demais. Gaillot deveria sair da França, ser transferido para outra diocese. Ganhou então Partenia, uma cidade que, segundo o Vaticano, ficava "mais ou menos na Argélia".
Ainda que procurasse em todos os mapas da África, o bispo francês não conseguia de forma alguma encontrar Partenia. Depois de dias de dúvidas, finalmente descobriu por quê. Apesar de constar nos registros católicos, havia séculos que Partenia tinha virado um deserto.
Gaillot avisou então seus superiores que não poderia ser bispo de um lugar inexistente. A resposta foi imediata. E curiosa. Apesar de Partenia não existir de fato, lá já houve antes um bispado. Isso significava que a cidade existia "na mente de Deus".
A reação de Gaillot -agora associado a Léo Scheer, fundador do Canal Plus- foi surpreendente. Se a cidade estava na mente de Deus, isso significava que estava em toda e nenhuma parte. Logo, era um bispado virtual. Logo, ele assumiria na Internet.
As primeiras imagens de Partenia chegaram à rede em janeiro deste ano, trazendo um mapa de onde existiu um dia. Gaillot, pela Internet, dá conselhos aos fiéis, discute teologia e se engaja, sempre que pode, nas causas sociais. Segundo a imprensa francesa, o sonho de Gaillot sempre foi ser tão mediático quanto o Papa.

Onde encontrar:
SubGenius: http://sunsite.unc.edu/subgenius/
Partenia: http://www.partenia.fr.

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