São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
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Protestos aguardam o papa na França

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DE PARIS

O papa João Paulo 2º desembarca quinta-feira na França em meio a uma polêmica, ameaça de atentado e protestos.
Tudo porque, pela primeira vez em anos, Igreja e Estado vão celebrar juntos um evento: os 1.500 anos da conversão do rei Clóvis.
Não causaria estranhamento não fosse a França o único país da União Européia onde há separação entre Igreja e Estado.
'Assunto privado'
O evento é visto por boa parte dos franceses como um atentado ao caráter laico da República, principalmente depois que o papa exortou os franceses a lembrar do seu batismo, aludindo à conversão de Clóvis.
"Na França, religião é assunto privado. O que as pessoas se perguntam hoje é se a recepção do papa não seria um atentado à separação entre o domínio do público e do privado, entre a Igreja e o Estado", disse à Folha o cientista político Olivier Ihl.
A Igreja justifica a comemoração: "É a adesão à fé católica do primeiro artesão da construção desse país que vai se transformar na França", disse monsenhor Joseph Duval, presidente da Conferência dos Bispos da França.
"Se trata da conversão ao catolicismo daquele que ajudará a Gália a se livrar da heresia ariana", diz.
Há quem mantenha a polêmica no campo das idéias e nas páginas de jornal, mas há quem parta para a ação. Enquanto o papa estiver em Reims, celebrando a conversão, vários partidos de esquerda estarão fazendo uma manifestação em Paris. E é apenas uma das manifestações de protesto.
A extrema direita católica também não vê com bons olhos a visita do papa e já prometeu alardear suas divergências.
Mas o que está atormentando o sono dos serviços de segurança encarregados da viagem de quatro dias do papa à França é a ameaça de atentados.
O medo aumentou depois que foi descoberta, na semana passada, uma bomba na igreja de Saint-Laurent-sur-Sèvre, onde o papa estará no dia 19.
Pesquisa
Uma pesquisa publicada ontem na França informa que, se 58% dos franceses têm alguma simpatia pelo papa, 34% não têm boa opinião sobre João Paulo 2º.
Para 67% dos franceses, o papa é retrógrado. Para 70%, ele tem idéias inadequadas aos problemas do final do século.
Não deixa de ser reflexo da mudança de um país que, na virada do século, concentrava o maior número de batizados no mundo.

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