São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
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O fim da formalidade

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Caiu brutalmente o número de empregos formais no país. Dados inéditos do Ministério do Trabalho mostram que as empresas no país cortaram 2,060 milhões de postos de trabalho nos anos 90.
Isso não representou uma explosão do desemprego. As taxas ainda estão em níveis muito mais confortáveis do que em países como a vizinha Argentina ou a européia Espanha.
Um exército de trabalhadores deu um jeitinho. Foram empurrados para a informalidade. Esqueceram a carteira de trabalho. Vendem comida congelada. Montam computadores. Fazem transporte clandestino.
Em 90, metade dos trabalhadores ocupados pesquisados pelo IBGE contribuía com a Previdência Social. Hoje, apenas 43,1% pagam para ter aposentadoria algum dia.
A leitura mais óbvia desses números é que está completamente falido o sistema de relações de trabalho no país.
A maioria dos trabalhadores brasileiros percebeu que não adianta nada pagar INSS, Imposto de Renda, ter FGTS e uma aposentadoria miserável.
Esqueceram o Estado. Mais do que isso, querem que o Estado se dane. Deve ser essa a sensação de algum trabalhador informal quando esbarra em uma taxa ou imposto intransponível.
Afinal, o que dá o Estado em troca? Quase nada. A rede de proteção para os trabalhadores é pífia. Quem pagar para ter uma aposentadoria do Estado durante 35 anos conseguirá, no máximo, R$ 957,56 por mês. E o pagamento é compulsório para trabalhadores formais.
É claro que muitos trabalhadores talvez ainda preferissem estar sob a segurança de uma grande empresa. Mas não existe oferta.
E o Brasil protagoniza o caso clássico da realidade superando a formalidade. Cabe ao governo e ao Congresso acabar com esse anacronismo.
O Ministério do Trabalho fez uma pequena parte coletando os números que permitiram toda essa análise. Mas ainda falta muito.

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