São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 1996
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'Tormenta', de Ridley Scott, morre na praia

MURILO GABRIELLI
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Tormenta", o mais recente filme de Ridley Scott (de "Blade Runner"), cumpre, infelizmente, tudo que dele se espera, da maneira pela qual se espera.
No princípio da década de 60, um grupo de adolescentes recém-saídos do colegial inscreve-se em um navio-escola, com proposta acadêmica original: formar mentes e caráteres em um ano de navegação.
Aos percalços originais, segue-se a descoberta da amizade e da força da união. Quando tudo parece navegar por águas plácidas, chega a tormenta anunciada pelo título: o navio vai a pique, mas os valores que ele representa não.
O capitão-instrutor de Jeff Bridges segue o figurino. Duro, porém íntegro; disposto ao sacrifício pessoal, mas incapaz de mostrar emoções. O protagonista (Scott Wolf, da série de TV "O Quinteto") também não decepciona os que odeiam surpresas: sensível, enfrenta com coragem suas próprias fraquezas.
A trama se desenvolve em meio a belos pores-do-sol no mar do Caribe. Se, repetidas vezes, eles não têm a menor função narrativa ou relação com os planos que os sucedem ou seguem, pouco importa. Afinal, são desejáveis em um filme que se passa no mar.
A câmera não se notará ao registrar a história. Estará onde é provável que esteja, pelo tempo que se espera. Não constrói espaço algum, apóia-se na noção de espaço fílmico que o público já carrega consigo, inconscientemente.
Nem a crítica que inspira filmes como esse pode fugir ao óbvio. Seus defeitos são também os esperados e, pior, talvez intencionais.
"Tormenta" não possui existência fora das duas horas em que ocupa a tela. Não cria, só reafirma. Passa vagamente pelo olho e morre na praia.

Filme: Tormenta
Direção: Ridley Scott
Com: Jeff Bridges, Scott Wolf, John Savage, Caroline Goodall
Quando: a partir de hoje nos cines Bristol, Morumbi 2, Eldorado 4 e circuito

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