São Paulo, sábado, 21 de setembro de 1996
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Estação poderia ter impedido choque de trens

SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A BARRA DO PIRAÍ E VOLTA REDONDA (RJ)

O desastre ferroviário que matou 15 pessoas em Japeri poderia ter sido evitado caso o trem cargueiro tivesse sido desviado para uma das duas opções de linha na descida da serra das Araras.
Entre o primeiro alerta da falta de freios dado pelos maquinistas do cargueiro e o choque contra o trem de passageiros, passaram-se dez minutos, segundo os maquinistas do trem de carga.
O tempo era suficiente para que o controle ferroviário sediado em Barra do Piraí (município a 120 km do Rio) alertasse a estação de Japeri para desviar o cargueiro da rota de colisão com o outro trem.
Na rota, há dois desvios possíveis: um que leva ao porto de Sepetiba (zona oeste do Rio) e a linha auxiliar da estação de Japeri.
O trajeto não foi desviado e os trens se chocaram a 500 metros de Japeri, município a 60 km do Rio.
Maquinistas
Os maquinistas do trem cargueiro -Daniel Rodrigues Barbeiro, 40, e Cláudio Guimarães, 36- sabiam que estavam na mesma linha do trem de passageiros.
"Meu desespero era avisar o Barrinha (apelido do trem que liga Barra do Piraí a Japeri) para sair da frente", disse Barbeiro ontem.
O rádio do cargueiro (carregado com bobinas de aço nos 18 vagões) não funciona na mesma faixa do rádio do Barrinha. O contato por rádio tem de ser feito por intermédio do controle de Barra do Piraí.
Os maquinistas do Barrinha -Jadilmar Ferreira da Silva, 40, e Pedro Antônio de Carvalho, 41- foram avisados de que o cargueiro vinha atrás sem freios.
Em conversa com ferroviários de Barra do Piraí, eles disseram que, informados do perigo a 8 km de Japeri, aceleraram o trem na tentativa de chegar logo a estação, onde poderiam pegar a linha auxiliar.
Segundo os maquinistas, o que impediu a entrada no ramal auxiliar foi o sinal luminoso da estação, que estava vermelho. Pelo rádio, eles ainda gritaram para que o sinal fosse aberto, mas não deu tempo. O cargueiro chegou em seguida e houve o choque.
Os maquinistas do Barrinha não avisaram os passageiros porque não há rádio interno no trem.
Pelo regulamento da RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A.), um trem não pode nunca ultrapassar um sinal vermelho.
O maquinista Barbeiro disse que notou algo errado no freio na metade da serra, quando o trem não parou em um sinal vermelho. "Puxamos o freio de emergência. Nem assim a infeliz parou."
Seu colega Rodrigues afirmou que o trem chegou a desenvolver 120 km/h a cerca de 6 km do local do choque. No momento da batida, a velocidade era de 90 km/h, segundo ele. Eles se protegeram por trás do corrimão da locomotiva. Escaparam ilesos.
Os maquinistas criticaram a determinação da rede de reduzir a vistoria em Barra do Piraí antes da descida da serra. "Reclamamos muitas vezes, mas nada foi feito", disse Barbeiro.

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