São Paulo, sábado, 21 de setembro de 1996
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Detenção de menor chega a 3 anos

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM GARANHUNS

O adolescente J.P.S., 14, acusado de matar e estuprar a estudante Juceline Belarmina de Araújo, 8, permanecerá no máximo três anos internado numa instituição de recuperação de jovens infratores, afirmou ontem a juíza Karla Fabíola Peixoto Dantas, da Vara da Infância e Adolescência de Garanhuns (PE), responsável pelo caso.
Segundo ela, essa é a maior punição prevista para pessoas com menos de 18 anos de idade no Brasil. "Não importa se ficar comprovado que ele praticou o crime com perversidade", disse a juíza. A legislação não admite "em nenhuma hipótese" que o período de internamento exceda três anos.
Dantas tem 45 dias para proferir sua sentença, contados desde quarta-feira passada, quando determinou a internação provisória do garoto.
J.P.S. está em um abrigo para adolescentes infratores, em Caruaru (130 km de Recife) e, por determinação da juíza, não poderá conceder entrevistas enquanto não for ouvido pela Justiça.
Segundo a Polícia Civil, o adolescente confessou ter participado do crime, junto com o professor Regivaldo dos Santos, 30, e o desempregado Gilberto Justo da Silva, 18, no domingo, em Garanhuns.
Juceline teria sido morta por asfixia durante ritual religioso, a pedido do "pai-de-santo" Fábio Cavalcante Haji, 26. Todos os acusados estão presos. Apenas Haji nega ter participado do crime.
J.P.S. morava com os pais e quatro irmãos numa casa de cinco cômodos pequenos, no bairro de Heliópolis, na periferia de Garanhuns. A família sobrevive da venda de pamonha e colorau -um tipo de corante para alimentos.
A casa está abandonada desde a última quarta-feira. Quando seus pais souberam que o rapaz havia sido preso, acusado pelo assassinato de Juceline, juntaram os filhos e saíram de Garanhuns. No mesmo dia, uma multidão destruiu completamente a casa.
Os vizinhos dizem que J.P.S. parecia ser um menino normal, que gostava de jogar futebol, ir a festas e empinar pipas. Ele era atacante do time da rua e jogava junto com outro acusado, Gilberto Silva.
"Somos amigos há uns quatro anos", disse o estudante David de Araújo Barros, 15.
Segundo ele, a convivência começou a mudar há quatro meses, quando J.P.S. e Silva pararam de jogar bola e começaram a sair à noite. "Eles ficaram estranhos, quase não falavam mais com a gente", afirmou.
Nesse período, disse Barros, o adolescente rompeu o namoro com Jane, uma estudante que frequentava a casa dele nos fins-de-semana, e passou a dormir fora algumas noites.

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