São Paulo, sábado, 21 de setembro de 1996
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DEFLAÇÃO É BOM?

Inflação é ruim. Conclui-se daí que deflação, ou seja, uma queda generalizada de preços, é boa? A inflação em São Paulo caiu para o menor patamar dos últimos 38 anos na segunda quadrissemana de setembro. O aumento médio dos preços para os paulistanos foi de apenas 0,11%, segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
Espera-se que nas próximas semanas ocorram novas quedas de preços. A taxa de setembro pode, ainda segundo os técnicos da Fipe, finalmente ser uma taxa de deflação, fenômeno que não ocorre em São Paulo desde junho de 1957.
Há duas formas de encarar o fenômeno e tentar avaliar suas implicações. A primeira é observando os detalhes do cálculo. Muitos setores, como vestuário, mantêm os preços em queda, mas o efeito das liquidações tende a diminuir com a entrada da moda primavera-verão. Algumas tarifas públicas podem ser reajustadas (passada a fase eleitoral). Espera-se algum aquecimento econômico até o final do ano, o que pressiona os preços de serviços e alimentos.
Ou seja, a observação dos vários mercados sugere que o cenário mais provável ainda é o de estabilidade da inflação num patamar baixo, mas não de deflação contínua ou crônica.
Entretanto, há também outra perspectiva, mais abrangente, da qual se pode tentar avaliar como andam as relações entre o fenômeno inflacionário e algumas variáveis macroeconômicas mais gerais, como taxa de crescimento econômico, grau de abertura às importações e políticas de juros e câmbio.
Dessa perspectiva "macro" o cenário de deflação é mais provável e menos alvissareiro. O exemplo mais próximo é o argentino, onde a deflação pode tornar-se crônica se prosseguirem as dificuldades de retomar o crescimento econômico.
Ou seja, a deflação será uma notícia ruim à medida que estiver associada a estagnação econômica e crise de crédito. Será boa, se na média prevalecer a estabilidade.

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