São Paulo, domingo, 22 de setembro de 1996
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Governo FHC apóia o desemprego

ALOYSIO BIONDI

O presidente FHC se defende: o governo não pode impedir as empresas de investirem em máquinas, equipamentos, computadores e, com isso, ampliarem o desemprego, apesar do aumento da produção.
O argumento repisa a cantilena de que, para modernizar a economia, o desemprego é inevitável. Parece lógico. Mas não é. Trata-se de um sofisma. Por quê? Dentro das regras do capitalismo, se um empresário dispõe de capital para comprar máquinas, partir para a automação, a decisão é dele -assim como os riscos. Isto é, caberá a ele, empresário, verificar se os custos dessa modernização serão compensados pelo barateamento da produção e aumento nas vendas. O empresário, no caso, estará realizando investimentos dentro das regras do mercado e da concorrência.
O que está acontecendo no Brasil, no entanto, é bem diferente. Totalmente diferente. O governo está oferecendo vantagens -que a sociedade paga- para as empresas comprarem máquinas, equipamentos, computadores. Quais vantagens? Redução de impostos, empréstimos fartos a juros de pai para filho, e até redução de impostos para importar peças, componentes, matérias-primas.
Vale dizer: as empresas beneficiadas por esses privilégios não estão usando seu capital, ou pagando juros e impostos normais, para investir e desempregar. Quem está pagando efetivamente para ampliar o desemprego é a própria sociedade, povão e classe média.
É aí que está o sofisma do presidente FHC e sua equipe: atualmente, o Brasil não só não dispõe de uma política para criar empregos. É muito pior: tem uma política para ampliar o desemprego, com dinheiro da própria sociedade. Um contra-senso. Exemplos?
Automóveis - A indústria automobilística ganhou redução e perdão de impostos. E pode importar peças e componentes com imposto (tarifa) de 2%, destruindo os fabricantes locais e desempregando. Vantagens necessárias, para concorrer lá fora? Em 1995, segundo a "Gazeta Mercantil", a margem de lucros na produção de cada carro no Brasil foi elevadíssima, na comparação com padrões mundiais. Isto é, o perdão de impostos e outras vantagens não é para reduzir preços e competir.
Bancos - Podem abater, "tirar" do Imposto de Renda, as despesas com automação e reorganização (isto é, demissões). A vantagem é tão grande que há bancos instalando equipamentos caríssimos com baixíssima utilização (tipo "banco em casa"), isto é, são antieconômicos. Mas, já que é dinheiro do IR, por que não usá-lo?
Comércio - Os shoppings centers são o setor de maior crescimento e maiores lucros no Brasil, nos últimos anos. Eles vêm reduzindo as vendas do comércio tradicional, as "lojas de rua", isto é, concentrando as vendas, provocando o fechamento de lojas e desemprego. O governo não pode impedir a construção de shoppings, claro. Mas, repita-se: o governo está fazendo o inverso: criou empréstimos especiais para os construtores/montadores de shoppings no estatal BNDES, a prazos longuíssimos e juros baixíssimos: 6% ao ano mais TJLP (juro de longo prazo).
Agricultura - O próprio Banco do Brasil concede empréstimos para a importação de frutas a juros de 8% ao ano, taxa infinitamente mais baixa do que a paga pelos produtores nacionais. Resultado: mercado inundado por frutas importadas, preços despencando e produtores locais forçados a vender com prejuízos. A mesma coisa que aconteceu com o algodão: a produção caiu 50% e mais de 300 mil produtores foram desempregados no Nordeste.
Não é verdade que o desemprego seja uma consequência da "modernização".

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