São Paulo, domingo, 22 de setembro de 1996
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Livro mostra uma geração neurótica e abstinente

PATRICIA DECIA
DE NOVA YORK

Imagine se seus amigos ficassem terrivelmente ofendidos caso uma mulher grávida comesse uma sobremesa que levasse alguma bebida alcoólica. Ou ainda, quando a amiga de quatro anos de seu filho se recusasse a tomar sorvete ou comer qualquer coisa que não fosse dietética, com medo de engordar.
David Shaw, crítico de mídia do jornal "Los Angeles Times" sabe o que é isso, apesar de ser um amante do vinho, dos charutos e da comida francesa. Cansado de ser censurado por hábitos, em sua opinião, comedidos, Shaw escreveu "The Pleasure Police" (A Polícia do Prazer).
O livro, em 286 páginas, tenta mostrar porque a "mais saudável, rica e segura sociedade da história da humanidade" se tornou abstinente de todos os prazeres e "nazista" quando se trata de comida.
Para o autor, esse fenômeno é absolutamente norte-americano e tem seus mais agudos exemplos entre a classe média alta, na faixa dos 40 anos.
"Hoje em dia, as pessoas querem uma vida sem riscos. Qualquer hábito, por mais simples que seja, que possa tirar dois anos da sua velhice se torna um pecado, algo a ser evitado a qualquer custo."
O resultado, na opinião de Shaw, é uma geração neurótica e abstinente de todos os prazeres. E ainda mais. Esse mesmo grupo se sente pessoalmente ofendido e no direito de "salvar" quem tentar não seguir as mesmas regras.
"É óbvio que fumar cigarros hoje é perigoso. Se você quer fumar, isso não me incomoda, é problema seu. Minhas objeções são com as pessoas que querem proibir você de fazê-lo", afirmou.
O jornalista passeia por diversas áreas como comida, drogas, bebida, sexo e cigarros, denunciando o que ele chama de alarmistas e neuróticos que tentam acabar com toda a diversão da vida.
"The Pleasure Police", no entanto, não é uma apologia aos excessos. Ao contrário, Shaw faz questão, o tempo todo, de ressaltar que prega apenas o bom senso.
"Tentei ser razoável. Acredito em auto-indulgência, mas não autodestruição. E não escrevi um livro para ser propositadamente ultrajante ou provocativo, escrevi o que acredito", disse.
Ele ainda relata algumas de suas experiências pessoais, como jantares que teve na França, ou sua primeira relação sexual, o que foi o único alvo das críticas ao livro nos Estados Unidos.
"Ninguém me criticou pelos assuntos tratados no livro, o que me faz pensar que essa 'polícia do prazer' tende a diminuir. Achei que feministas, ambientalistas, defensores dos direitos dos animais, dos gays fossem me atacar. Isso não aconteceu", afirma.
Mas esse fato é usado por Shaw para explicar outro componente que fortalece o "politicamente correto": o papel da mídia.
"A mídia é um megafone. Ela faz os assuntos parecerem maiores do que a realidade. Jornais e revistas estão preocupados em conseguir mais leitores e telespectadores e uma maneira de obter isso é publicar histórias assustadoras."
(PD)

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