São Paulo, domingo, 22 de setembro de 1996
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EUA se negam a 'pagar a conta'

IGOR GIELOW
DE LONDRES

A Otan quer mudar totalmente de cara até o fim do século. Para isso, além da mudança estrutural com a chegada de novos sócios, pretende mudar também a geopolítica da aliança.
Os EUA sempre foram o principal braço da Otan desde 1949. E vão continuar sendo.
"Não nos passa pela cabeça discutir coisas como reduzir a importância dos EUA. Isso seria motivo para pesadelos dos dois lados do Atlântico", disse Solana.
O que deve mudar porém, é a posição dos membros europeus. "É consenso que o 'pilar europeu' deve ser reforçado com novas políticas de defesa comuns."
Antes de tudo, há a questão econômica. Sozinhos, os EUA colocaram US$ 284 bilhões no ano passado na Otan. Os 14 membros europeus, somados os orçamentos, cerca de US$ 170 bilhões com PIB unificado superior.
Isso com cortes brutais, por parte dos EUA, na destinação de verbas para a Otan. Em 1991, quando a União Soviética agonizava, eram US$ 400 bilhões por ano.
Há o custo humano a ser pago. Na Bósnia, a Ifor tem 60 mil soldados -um terço norte-americanos, boa parte arriscando a vida.
E a opinião pública dos EUA se pergunta, cada vez mais, o motivo de ver seus soldados garantindo a paz em um lugar perdido no meio da Europa. Foi assim nas duas guerras mundiais, nas quais os EUA entraram tardiamente.
Hoje os países europeus contam, além da Otan, com pelo menos dois fóruns de política de segurança comum: UEO (União Européia Ocidental, com dez países) e própria UE (União Européia).
A UEO tomou alguns passos, como a criação no ano passado dos Eurocorps -tropas multinacionais para ações rápidas.
Em termos de produção militar, o sinal verde dado pelo Reino Unido para a construção do avião de caça Eurofighter é outro passo. São US$ 62 bilhões em desenvolvimento e produção por britânicos, alemães, italianos e espanhóis.
Mesmo porque, hoje, mais de um terço do material bélico consumido pela Europa é americano.
Para Solana, que assumiu o cargo em 1995, após a saída de Willy Claes, envolvido em escândalo de corrupção quando era ministro da Bélgica, a questão é menos técnica.
"A criação de uma identidade européia mais por critérios políticos. Nós sabemos que os EUA não querem sempre assumir a ponta em crises européias."
(IG)

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