São Paulo, domingo, 22 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasil: prioridade da França

PHILIPPE LECOURTIER

Há poucos dias, o presidente Chirac comentava em Paris que a América Latina merece atenção especial por parte da França. Chirac sublinhava a necessidade de encorajar as empresas francesas a participar ativamente do desenvolvimento desse continente, de "reatar os fios de uma maior proximidade cultural, de desenvolver um verdadeiro e duradouro diálogo político" com os países dessa região. Esses comentários fazem eco aos que o presidente francês vem fazendo desde o início do ano, quando orientou seus ministros a eleger o Brasil como a prioridade da França nas suas relações com a América do Sul.
Essa vontade política, da qual a exposição "França 2000" promete ser, em outubro, uma amostra de grande sucesso, tem sido expressada claramente. Nos últimos meses, as relações franco-brasileiras vêm sendo marcadas por várias visitas ministeriais, destacando a viagem oficial do presidente Fernando Henrique Cardoso a Paris, em maio. E já está confirmado: na primavera de 1997, o presidente Chirac visitará o Brasil.
A França confia no Brasil. O sucesso do Plano Real, associado ao lançamento de reformas estruturais prioritárias, e a estabilização da situação econômica brasileira, recentemente aberta ao mundo, são algumas das novas questões que têm revitalizado o interesse dos empresários franceses no Brasil.
Entre os exemplos mais visíveis dessa aproximação, estão a decisão da Renault de construir uma fábrica montadora de veículos no Paraná e a participação de um consórcio liderado pela Electricité de France no processo de privatização da Light. O Banque Nationale de Paris igualmente escolheu retornar com força total ao Brasil. E o grupo Publicis acaba de comprar a Norton. A aproximação entre França e Brasil está claramente engatilhada.
Foi preciso esperar um quarto de século para assistir ao despertar das relações entre nossos países. A última grande exposição comercial francesa no Brasil aconteceu em 1971. E foram necessários 25 anos para que o Brasil voltasse a figurar entre os países que a França prioriza em seu comércio exterior. Nesse sentido, já no início do ano, o governo francês decidiu melhorar as condições de garantia de concessão de créditos à exportação para o Brasil.
O que está em jogo é considerável. O Brasil apresenta um mercado com várias dezenas de milhões de consumidores de produtos do Primeiro Mundo. E iniciou um vasto ciclo de privatizações que interessa a todos os países, entre os quais a França, que já comprovou sua competência nos setores de telecomunicações, energia, tratamento de águas e recursos hídricos, rodovias.
Torna-se necessário que o Brasil e a França intensifiquem seus intercâmbios comerciais. A França é o sexto parceiro comercial do Brasil, e o volume de nossos intercâmbios é ainda insuficiente: US$ 2,5 bilhões. O que se observa é uma complementaridade assombrosa nos intercâmbios entre nossos países. Com o desenvolvimento industrial do país, esses intercâmbios tendem a se diversificar e a se ampliar.
Num sentido mais amplo, essa complementaridade se repete entre a União Européia e o Mercosul. O acordo assinado em Madri, em dezembro de 95, entre os dois grupos define um quadro propício ao desenvolvimento de suas relações não só comerciais, mas também políticas, prevendo a criação de uma associação inter-regional. O lugar especial que a França ocupa na União Européia, assim como o do Brasil no Mercosul, dão uma dimensão e uma vocação fora do comum ao diálogo entre nossos países.
Nesse contexto, a exposição industrial e comercial "França 2000", que o governo francês realiza em São Paulo, de 1 a 6 de outubro, representa um grande desafio não só para as 320 empresas francesas expositoras -a maior parte delas sem nenhuma representação no país-, mas também para o Brasil. O objetivo da "França 2000" é concretizar negócios e entrelaçar laços duradouros entre nossos empresários, seja por meio de investimentos diretos ou de parcerias, de joint ventures ou de transferência de tecnologia. Importantes grupos e empresas francesas investem ou se preparam para fazê-lo.
Espero que as comunidades de negócios dos dois países aproveitem esse reaquecimento global das relações franco-brasileiras para criar uma base sólida fundada sobre interesses recíprocos, num mundo sem dúvida mais aberto à competitividade internacional, porém onde as parcerias entre países amigos são mais que nunca indispensáveis para compensar os inconvenientes e os perigos da globalização.

Texto Anterior: Descompostura ou desfaçatez
Próximo Texto: Rede Globo; Democracia frágil; Protesto; Resposta atrasada; Indenizações; Florestan
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.