São Paulo, domingo, 22 de setembro de 1996
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Advogado percorre 3 continentes de jipe

Viagem, que durou 87 dias, começou nos EUA

MARCELO TADEU LIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Atravessar sozinho três continentes e 12 países, em 87 dias, pilotando um jipe em rotas alternativas. Total percorrido: 28.000 km. Parece até enredo de filme de aventuras de Hollywood.
Mas para o advogado João Marcos Silveira, 31, foi apenas o caminho mais longo, e um tanto particular, de voltar para casa.
O companheiro de viagem foi um jipe Wrangler 95 (Chrysler), comprado por US$ 15 mil.
Com o auxílio de alguns mapas, Silveira escolheu a dedo estradas que levavam a lugarejos perdidos no tempo, desertos, muita terra, lama e verde.
A missão tinha apenas uma necessidade: terminar antes do dia 28 de agosto. "Cheguei em casa no dia 27 à noite. No dia seguinte, vesti terno e gravata e fui trabalhar, na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Imprevisto
A viagem começou em Concord (Estado de New Hampshire, EUA), após um curso de pós-graduação, com um pequeno incidente -o único registrado nos quase três meses de viagem.
Silveira torceu o tornozelo ao terminar de carregar o jipe. "Guiei os primeiros três dias com a perna engessada."
O toca-fitas para ouvir rock e o rádio sintonizado em estações que tocavam músicas regionais serviram de trilha sonora à sequência de belas paisagens.
Sob um calor que beirava 40°C, ficaram para trás, nos EUA, as Montanhas Rochosas, desertos do Arizona, Novo México e Texas e o Grand Canyon.
Na divisa com a Guatemala, uma nota de US$ 10 serviu para aplacar o mau humor dos policiais.
Na América Central, Silveira guardou boas recordações da Costa Rica ("um país limpo e bonito") e do México.
"Atravessei vários trechos onde havia guerrilha no México. Com placas dos EUA, o jipe causava furor. Mas quando percebiam que eu era brasileiro, a situação logo se acalmava."
A passagem para a América do Sul foi feita por mar -de Colón, no Panamá, a Cartagena, na Colômbia.
Brasil
A chegada ao país aconteceu no dia 1º agosto. "Por incrível que pareça, foi por aqui que mais gastei dinheiro. Gasolina, comida e hospedagem eram bem mais caras."
Os pernoites, que custavam entre US$ 7 e US$ 8 no trajeto, subiram para quase US$ 30.
O dentista Fernando Torres, amigo de infância de Silveira, acompanhou-o de Boa Vista (RR) até a serra do Navio, em Macapá (AP). O trecho compreendia incontáveis rios, muito verde e dois "enormes atoleiros" -em Roraima e na divisa deste Estado com o Amazonas.
O pior foi atravessar, de barco, o trecho entre Manaus e Santarém (PA). "Cobraram R$ 250 pelo jipe, mais R$ 25 por pessoa."
A viagem, de 36 horas, aconteceu em um barco malconservado, com apenas um banheiro para 250 pessoas, e redes para dormir.
Na serra do Navio, outra travessia de barco. Preço: R$ 450.
"Consegui, com uma transportadora, uma espécie de patrocínio", disse Silveira.
Um fato melancólico chamou a atenção do advogado na região amazônica.
"Os rios, em trechos próximos a cidades, estavam repletos de latas de cerveja e plásticos."
"Quero viajar ao Pantanal, subir até a selva amazônica e retornar a São Paulo, em um mês. Só falta eu escolher se vou de moto ou carro."

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