São Paulo, segunda-feira, 23 de setembro de 1996
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Guarulhos e Osasco têm em SP os piores indicadores de saúde

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Entre as dez maiores cidades do Estado, Guarulhos e Osasco, na Grande São Paulo, têm 2 dos 3 maiores índices de mortalidade, as piores taxas de mortalidade infantil e de mortalidade por homicídios.
A comparação desses resultados com outras características dos municípios indica quais podem ser as causas do problema e, a partir daí, dar pistas de quais pontos os novos prefeitos terão que atacar em suas gestões.
Nos casos de Guarulhos e Osasco, as causas parecem estar ligadas a educação, saneamento básico, rede de saúde e exclusão social.
Para chegar a essas conclusões, a Folha comparou 23 indicadores dos dez maiores municípios paulistas, usando dados da Secretaria Estadual da Saúde, coletados pela Fundação Seade no "Perfil Municipal de Saúde".
A alta taxa de mortalidade infantil em Guarulhos (48,1 para cada 1.000 grupos de 1.000 nascidos vivos) pode estar ligada ao fato de que 7,55% das mulheres em idade fértil na cidade são analfabetas.
O acesso limitado à informação de mães de baixa renda representa um risco potencial para seus filhos. Muitas vezes, elas não sabem que podem usar o soro caseiro para evitar que os filhos morram de desidratação.
No caso de Guarulhos, tanto a taxa de mortalidade infantil como o analfabetismo de mulheres de 15 a 49 anos é bastante superior à média do Estado. São os piores resultados entre as dez maiores cidades.
Guarulhos ainda coleciona os piores desempenhos do grupo em abastecimento de água, coleta de lixo e esgotamento sanitário. Nos três casos, o atendimento é inferior à média estadual.
A mortalidade de crianças de menos de um ano já foi menor que a média estadual, em Guarulhos, que, com cerca de 850 mil habitantes, é a terceira maior de São Paulo. Mas o progresso do resto do Estado foi maior e deixou a cidade atrás.
Sexto maior município paulista, com cerca de 600 mil habitantes, Osasco tem a maior taxa de mortalidade infantil precoce, de crianças com menos de sete dias (17,09 por 1.000), entre as dez maiores cidades do Estado.
A falta de acesso à educação parece também estar na base do problema. Depois de Guarulhos, tem as maiores taxas de analfabetismo da população adulta e também de mulheres em idade fértil.
O terceiro indicador em que as duas cidades se destacam é a morte por homicídio. Nesse caso, repetem-se em Guarulhos e Osasco as condições de exclusão social que levam a periferia de São Paulo a ter a maior incidência de assassinatos do Estado.
A diferença entre a capital e suas vizinhas, opina o médico Marcos Drumond -que trabalha num programa de análise das estatísticas sobre mortalidade em São Paulo-, é que em Guarulhos e Osasco não há as áreas ricas e pouco violentas, como os Jardins, para compensar.
Também na Grande São Paulo, São Bernardo do Campo reforça essa hipótese: é a terceira maior taxa de homicídios, logo à frente da vizinha São Paulo.
São Bernardo registra ainda o maior índice de natimortalidade do grupo, quase empatada com Santos. Em ambos os casos, as taxas são superiores à média estadual. Talvez não por acaso, Santos tem o maior percentual de operações cesarianas das das maiores cidades do Estado. É o que ocorre em 48% dos partos.
Segundo a médica Anna Volochko, do Núcleo de Investigação da Saúde da Mulher e da Criança (Instituto de Saúde da secretaria estadual), em cesáreas aumenta o risco de o bebê ser tirado do útero da mãe antes de estar totalmente desenvolvido.
"E as taxas de mortalidade materna estão subestimadas, especialmente quando é cesárea. Pode multiplicar por dois."

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