São Paulo, terça-feira, 24 de setembro de 1996
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DF quer processar pai que explora filho

PAULO SILVA PINTO

PAULO SILVA PINTO; ROGERIO WASSERMANN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Garota de 10 anos diz que era obrigada a pedir dinheiro no semáforo, com uma irmã de um ano no colo

O governo do Distrito Federal quer processar o catador de papéis Aílton da Silva, 41, e sua mulher Ana Maria, 33, por usarem 2 de seus 9 filhos como mendigos. Um dos filhos, uma menina, tem apenas um ano de idade.
O secretário de Desenvolvimento Social, Osvaldo Russo de Azevedo, viu as duas meninas, C.E.S., 10, e R.E.S., 1, em um semáforo na semana passada e ligou para o SOS Criança.
A menina de 10 anos disse que os pais a obrigavam a pedir dinheiro, com a irmã no colo, em frente ao McDonald's da Asa Norte, em Brasília, e que era agredida por eles em casa.
Mendicância
As duas crianças estão agora em uma das casas que a secretaria mantém para crianças e adolescentes. As duas já tinham passagem no Juizado de Menores por mendicância.
"Vamos processar todos os que exploram crianças, sexualmente ou economicamente, sejam ricos ou pobres", disse Azevedo, que é filiado ao PPS (Partido Popular Socialista) e presidiu o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) no governo Itamar Franco.
Ele deu entrada na quinta-feira com a representação em nome do governo. A representação foi aceita pela Promotoria da Infância e da Juventude, que vai estudar a possibilidade de processar os pais.
Azevedo disse que tomou a decisão porque os pais são reincidentes e, segundo ele, recusaram ajuda econômica e assistência psicológica da Secretaria de Desenvolvimento Social.
Aílton e Ana Maria negam. A mãe afirma que a menina fugiu de casa quando o marido foi buscá-la e ao filho menor, de um mês, no hospital (leia texto ao lado).
Campanha em São Paulo
Em São Paulo, segundo o SOS Criança, nenhum pai ainda foi processado por explorar os filhos para conseguir dinheiro nas ruas.
"Mas vamos começar a atuar de forma mais pesada. Até agora estávamos tentando tirá-los da rua numa boa, abordando principalmente as crianças sozinhas", afirma o coordenador do SOS, Paulo Vitor Sapienza.
Segundo Sapienza, a polícia de São Paulo vai atuar junto com o órgão, identificando os adultos que estejam explorando crianças.
O SOS pretende entregar aos pais uma advertência alertando sobre as penas previstas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e pelo Código Penal (leia abaixo).
Serão espalhados ainda cartazes pela cidade com os dizeres "Estamos de olho em você, adulto. Não explore as crianças. Denuncie".
O SOS Criança mantém o telefone 1407 à disposição para receber denúncias sobre maus-tratos e exploração de crianças.

Colaborou ROGERIO WASSERMANN, da Reportagem Local

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