São Paulo, domingo, 29 de setembro de 1996
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Serra reconhece que foi surpreendido pelo marketing da campanha do PPB

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Tucano afirma que há fortes "indícios" de corrupção na administração do prefeito Paulo Maluf

O candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra, reconhece que foi "surpreendido" pela eficiência do marketing malufista, a quem atribui o sucesso de Celso Pitta (PPB). Serra está em terceiro lugar na disputa, com 15% das intenções de voto, segundo o Datafolha.
O candidato tucano diz que há "indício claro de corrupção" na administração de Paulo Maluf. A seguir, os principais trechos da entrevista exclusiva à Folha:
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Folha - O fato de o sr. ser identificado como o candidato dos governos federal e estadual ajudou ou atrapalhou a campanha?
José Serra - Não ajudou nem atrapalhou. É um fato que faz parte da minha candidatura, previsível com antecipação. Você ser governo estadual e federal te dá uma localização muito especial dentro do processo eleitoral.
Folha - Alguma coisa nessa campanha o surpreendeu?
Serra - A capacidade demonstrada pela propaganda do Maluf e do Pitta de seduzir uma parte grande da opinião pública.
Surpreendeu também o Maluf fazer campanha para a Erundina e ver a Erundina e o PT poupando a atual administração.
Folha - Até agora qual o melhor momento da campanha?
Serra - O melhor fato que eu considero foi a garra e a mobilização dos militantes de meu partido e das pessoas que me apóiam mesmo nos momentos considerados mais complicados, associados principalmente à divulgação de resultados de pesquisas.
Folha - Qual foi o momento mais difícil?
Serra - Especialmente o primeiro mês. Logo que eu sai candidato, houve bastante alvoroço em torno do lançamento da candidatura, mas eu vim imediatamente para São Paulo e não tinha rigorosamente nada organizado, nem recursos. Junho foi bastante difícil.
Folha- Como o sr. analisa a campanha do PPB?
Serra - É uma campanha baseada no marketing. O horário eleitoral deste ano, infelizmente, não teve as mesmas regras do anterior, que tinham resultado de proposta minha, quando eu era líder do PSDB na Câmara.
Infelizmente, as regras deste ano se tornaram extremamente liberais nessa matéria, o que permite a venda de candidato como se fosse desodorante. O PPB chegou ao extremo. Conseguiram esconder o Pitta. O horário atual permite também situações ridículas como aquela da Erundina quebrando gravetinhos no Ibirapuera.
Folha - E a campanha do PT?
Serra - Não tenho grandes análises. Há um fato que todo mundo sabe, que através da propaganda na TV, de efeitos especiais, também se procurou inverter a imagem da Erundina. Eu acho que não conseguiram, mas se tentou fundamentalmente isso.
Folha - Quando sua candidatura foi lançada, existia uma aposta em seu partido que o sr. entraria como um furacão e seria o favorito. A campanha acabou apresentando mais dificuldade que se esperava. A que o sr. atribui isso?
Serra - Nunca esperei que fosse como um furacão. Sempre achei que seria uma campanha difícil. É diferente você ir para uma eleição sendo governo no Estado e no país, além disso com uma prefeitura organizada, com sua máquina de propaganda para a eleição e uma aliança implícita que haveria entre o Maluf e a Erundina.
O PT refluiu na crítica à administração, deixou por nossa conta, e o Maluf não criticou a Erundina.
Folha - O sr. se surpreendeu com a aceitação de Pitta?
Serra - Eu me surpreendi é com o efeito da propaganda. Não conhecia o Pitta. Não imaginava que ele fosse tão fraco e que essa fraqueza pudesse ser suprida até certo ponto pela propaganda. Imaginei que o Maluf tivesse escolhido alguém com um mínimo de preparo, de conhecimento da cidade, de economia, de argumentação.
O Pitta sequer sabe o que significa déficit público. Para alguém que estudou economia, por menos que tivesse se dedicado aos estudos, é uma coisa surpreendente.
Folha - Depois de tudo que ocorreu na campanha, o sr. se sentiria confortável numa situação política em que tenha de se aliar a Maluf?
Serra - Eu não terei de me aliar ao Maluf. Deus me livrará disso. Eu não mereço essa provação.
Folha - Se o sr. ganhar a eleição, pretende governar com quem?
Serra - Pretendo ter uma administração majoritária na Câmara e estarei aberto a todas as forças que queiram cooperar.
Folha - Eventualmente, o sr. contemplaria a participação de petistas em seu governo?
Serra - Sim. Se houvesse acordo com relação ao programa e às tarefas da administração.
Folha - Se perder, qual posição o sr. defenderá dentro do PSDB sobre o segundo turno?
Serra - Não contemplo isso.
Folha - As campanhas do sr. e a do Pitta são tidas como as mais ricas de São Paulo nos últimos anos. Se sente confortável em ser o candidato de uma campanha que está gastando tanto dinheiro?
Serra - Não sei o que é "são tidas". O que eu vejo são opiniões que de repente se transformam em reportagens que parecem que estão revelando algum fato.
Não há paralelo entre a campanha do Pitta e a nossa do ponto de vista de volume, de propaganda, inclusive ao uso de máquina. Como não se quer ficar dizendo que só a do Pitta é rica, aí se introduz a nossa, mas não é o caso. Fazemos uma campanha com dificuldades.
Folha - Na campanha, o sr. visitou lugares em que a condição de vida da população é desumana. É possível mudar no curto prazo?
Serra - Na maioria dos casos, seria necessário muito pouco para melhorar muito a situação. É que a prefeitura não se ocupa de problemas que para ela são pequenos e para as pessoas, muito grandes.
No caso da gestão da Erundina, pelo despreparo que tomou conta da administração e desconhecimento do que era São Paulo.
No caso do Maluf, além da eventualidade desses fatores, a centralização e manipulação das administrações regionais como instrumento de maioria na Câmara.
Ainda no caso de Maluf, tem o exemplo de Águas Espraiadas, que é uma obra superfaturada.
Folha - Isso é corrupção, então?
Serra - Superfaturamento, sem dúvida. É um indício claro de corrupção. O problema é demonstrar isso. Os tribunais de contas não examinam custos, só o procedimento formal. E você tem de estar em cima da administração para poder fazer essa revisão.
Folha - O sr. acha que existiu nessa gestão uma sangria...
Serra - Brutal. Aliás, o superfaturamento é uma marca do malufismo. No governo Montoro, tivemos que repactuar contratos de Metrô, Sabesp etc.

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