São Paulo, domingo, 29 de setembro de 1996
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Internet aqui está lenta, quase parando

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Qualquer um dos estimados 500 mil brasileiros que acessam a Internet já passou pelo incômodo: o computador se torna frequentemente lento, preguiçoso.
Carrega dados captados na rede internacional a uma velocidade próxima a 30 bits (informações digitalizadas) por segundo.
É um fluxo 960 vezes menor que o permitido pelos melhores modens (aparelhos de transmissão) encontrados em qualquer bom revendedor de informática.
A lentidão tem como principal causa o congestionamento da rede telefônica, como admitiu o próprio presidente da Telebrás, Fernando Xavier Ferreira, em recente depoimento no Congresso.
Telebrás
A Telebrás é uma holding que controla a Embratel (responsável pelos circuitos interestaduais e com o exterior) e as 27 empresas estaduais de telefonia.
Em resumo, a Internet -tanto as empresas particulares que vendem o serviço, os provedores, quanto os usuários- tornou-se o novo refém de um serviço público pouco eficiente.
Vejamos o caso da região metropolitana de São Paulo, que hoje reúne (não há informação oficial a respeito) a metade dos usuários brasileiros da rede mundial.
Os provedores já encomendaram 40 mil linhas telefônicas à Telesp. Com uma média de 20 senhas de acesso por linha, serão em breve, e por baixo, 800 mil pessoas com direito a trafegar pela rede.
É um número expressivo. Corresponde a 40% dos assinantes de telefonia fixa (o instalado na casa da gente) e a 145% dos atuais assinantes paulistanos do celular.
Colapso
Outro detalhe: enquanto uma ligação telefônica dura de um a três minutos, uma ligação Internet, que trafega pela mesma linha, dura em média 40 minutos (estimativa dos provedores à Telesp).
Numericamente, a Telesp poderia se considerar em contagem regressiva rumo ao colapso. Ela deve procurar, no entanto, redirecionar o tráfego que liga os usuários a seus provedores.
Está planejando instalar, no início de 1996, "atalhos" entre os provedores e as estações que fazem a mediação do tráfego de telefonia.
Assim, encurtará o trajeto das informações acessadas ou transmitidas pelos "internautas" e procurará impedir que suba, ainda mais, a taxa de congestionamento. Por causa dela, não são hoje completadas 7% das ligações interurbanas em São Paulo.
No Rio de Janeiro, segundo maior reduto de internautas, a situação está bem pior. A taxa de congestionamento está em quase 20%, cai a ligação em 5,1% dos casos, e só 38% dos interurbanos são completados.
Calcanhar de Aquiles
A Internet é qualificada pelo presidente da Telebrás de "nosso novo calcanhar de Aquiles". O calcanhar anterior foi o aumento das ligações após o Plano Real (entre 1994 e 1995), com 27% a mais de interurbanos e 58% a mais de chamadas internacionais.
A Internet, por sua vez, tinha no país 70 mil usuários há 13 meses. Já eram 300 mil em maio. Em seis meses, podem chegar a 1 milhão.
A Telebrás é juridicamente uma estatal, embora a União tenha apenas 22% do total de suas ações. Deve seguir, na contratação de bens e serviços, os mesmos procedimentos lentos de uma repartição pública. E ainda não investir mais do que o governo permite (R$ 6,4 bilhões, este ano).

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