São Paulo, domingo, 29 de setembro de 1996
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Silicose ameaça trabalhadores nordestinos

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A silicose, uma fibrose que endurece os pulmões e mata em menos de cinco anos, ameaça a extinguir os cavadores de poços de algumas regiões do Nordeste.
Cerca de um terço dos poceiros da serra do Ibiapaba, no Ceará, estão com a doença que não tem cura e mata por asfixia depois de grandes sofrimentos.
A silicose é provocada pela poeira da sílica, substância presente em vários tipos de terrenos.
Uma pesquisa feita em quatro municípios da região de Ibiapaba mostrou que 304 de 900 poceiros estudados estavam com silicose. A médica Márcia Holanda Alcântara, da Universidade Federal do Ceará, disse que esses índices podem ser extendidos para outras regiões do Estado e para quase todo o Piauí. Cerca de 80% da camada de rocha do solo piauiense têm altos índices de sílica.
Desde 1986, quando se constatou a gravidade da situação, o governo do Ceará vem tentando desestimular a abertura manual de poços e cacimbas. "Mas muitos cavadores não têm outra opção de trabalho", diz Márcia Alcântara. "Acabam cavando os poços mesmo sabendo que vão morrer."
O drama dos poceiros foi relatado no Congresso Brasileiro de Pneumologia realizado na semana passada em Belo Horizonte.
Riscos
O lençol freático na região de Ibiapaba fica entre 20 e 60 metros de profundidade. A água só aparece depois de perfurada uma camada de rocha de 2 metros de espessura. É nesta rocha que se encontra a sílica causadora da doença.
Além da silicose, a mortalidade por acidente é grande entre os cavadores. Muitas mortes são provocadas por queda e por falta de oxigenação no fundo dos poços.
Segundo o estudo de Márcia Alcântara, os poceiros constituem a camada mais pobre da população. Dados da própria Universidade do Ceará mostram que um único mês de internação hospitalar para um doente de silicose -cerca de R$ 6.000,00- seria suficiente para cavar um poço empregando máquinas.
A poeira da sílica também ataca garimpeiros, mineiros e trabalhadores da construção civil e de indústrias que recortam pedras.
Oficialmente, 140 pessoas já morreram vítimas da silicose. Os técnicos acreditam que esse número seja apenas a ponta do iceberg. Nenhum órgão oficial tem tem informação sobre os estragos provocados pela doença.
"As mortes só vão diminuir quando governo e sociedade passaren a exigir melhores condições de trabalho", disse Eduardo Algranti, pesquisador da Fundacentro, órgão ligado ao Ministério do Trabalho e que se ocupa de doenças profissionais.

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