São Paulo, domingo, 29 de setembro de 1996
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Bancos discutem vinda de capital externo

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado bancário brasileiro irá ficar mais concentrado ainda nos próximos anos e o país terá de abrir as portas ao capital estrangeiro para fazer frente a esse processo -etapa final da reestruturação dos bancos na era do Real.
O recado foi dado a executivos de bancos na semana passada pelo economista Paulo Rabello de Castro, dono da RC Consultores e da SR Rating, agência de classificação de riscos de crédito.
Convidado pela Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos) para falar sobre perspectivas do setor, Rabello de Castro lustrou sua bola de cristal e disparou: "Num exercício de 'chutometria', diria que os 240 bancos existentes até o Real serão reduzidos a 120, 150 instituições, no máximo. Mas o mais importante é que o nível de concentração de ativos vai aumentar. Os cinco maiores bancos, detentores de 60% dos depósitos do sistema, ficarão com 80% nos próximos cinco anos".
O economista justifica sua tese no fato de que os bancos terão de ser mais competitivos para sobreviver no cenário de inflação baixa.
Estruturas grandes de captação serão necessárias para alavancar o volume de empréstimos bancários, a maior fonte de receitas do setor nos anos vindouros. Como as instituições têm limitações para elevar suas carteira de crédito -o Acordo da Basiléia, assinado pelo Brasil, limita os empréstimos a cerca de oito vezes o capital de cada banco-, os aumentos de capital serão inevitáveis, explicou.
"Em 97 e 98 muitos bancos estarão batendo no teto de seus limites de capital, aí o processo de fusões e aquisições de bancos será acelerado. Haverá necessidade de somar forças, o que será feito com a ajuda do capital estrangeiro", disse.
O problema é que a participação dos bancos estrangeiros no mercado está limitada pela Constituição aos níveis encontrados em 1988. Pelas regras vigentes, um banqueiro estrangeiro só pode investir ou ampliar suas operações locais se obtiver o aval do presidente da República.
Impedimento
Atualmente, essa limitação não é um impedimento à abertura do mercado, já que o presidente Fernando Henrique Cardoso aderiu à fórmula neoliberal. No futuro, pode vir a ser, conforme a roupagem ideológica do sucessor.
"No curto prazo, a limitação aos bancos estrangeiros não afeta a inserção do país numa economia globalizada. A longo prazo, será um impedimento", avaliou Roberto do Valle, presidente do Citibank no Brasil. "A igualdade de condições com os bancos nacionais é muito importante para o país atrair mais capital externo."
O Citi tem 22 agências no país e aval para abrir outras 40. Mas, se quiser ganhar escala e inaugurar 300 agências, terá de comprar um banco já instalado ou participar de um leilão de privatização.
O presidente do Citibank sabe que um banco estrangeiro não tem condições de se instalar no país e concorrer de igual para igual, no mercado de varejo (pessoas físicas), com um Banco do Brasil, ou um Bradesco. Mas a simples chegada de um novo jogador pode mudar o cenário da competição entre os bancos, afirmou.
"O capital externo traz novas tecnologias, novos serviços. A vantagem da globalização é o know-how", disse Valle.
Assim como ele, advoga a globalização do setor o empresário Antonio Ermírio de Moraes, do grupo Votorantin. Inimigo público número um dos juros altos, Moraes defendeu a maior abertura do setor para amenizar o problema, em sua coluna na Folha, no domingo passado.
"É estranho que o mesmo governo que é tão fanático pela concorrência não se anime a propor uma mudança constitucional que permita a competição entre os bancos", escreveu Antonio Ermírio de Moraes.

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