São Paulo, domingo, 29 de setembro de 1996
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A liberdade sob o impacto tecnológico

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

A liberdade é o destino humano. Uma prática que necessita de exercícios diários para que possa se realizar plenamente.
Essas e outras idéias sobre o significado da liberdade foram apresentadas pelos professores Candido Mendes e Nicolau Sevcenko durante debate sobre a liberdade da série "Diálogos Impertinentes", que ocorreu no dia 27 de agosto.
A série "Diálogos Impertinentes", promovida pela Folha, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e Sesc (Serviço Social do Comércio), constitui-se de debates mensais que reúnem personalidades de áreas diferentes para discutir temas genéricos.
Candido Mendes é escritor, professor e advogado. Nicolau Sevcenko é professor do departamento de história da USP e professor visitante da Universidade de Londres.
O encontro foi mediado por Marcos Augusto Gonçalves, editor de domingo da Folha, e por Mário Sérgio Cortella, professor do departamento de teologia e ciência da religião da PUC-SP.
Durante a discussão, um dos assuntos abordados foi a tecnologia, e de que maneira ela seria transformadora para o conceito de liberdade.
Para Sevcenko, "por causa dessa complexidade tecnológica, se está sujeito a formas de rotinização, de massificação, de despersonificação e de alienação que nunca nenhum outro homem conheceu em outros tempos. Nesse sentido o processo é um perde-ganha", afirmou.
Para Candido Mendes, a fala de Sevcenko vai ao encontro do que acredita, acrescentando que hoje uma das maiores ameaças à liberdade é a presença sempre constante do simulacro.
"Estou inteiramente de acordo com o Nicolau nesse sentido; que, realmente, nós cada vez podemos ser mais senhores daquilo que está a nossa volta, mas cada vez menos nós representamos o que está à nossa volta com a nossa própria idéia.
O terrível e o grande perigo da liberdade hoje em dia é a ditadura dos simulacros, ou seja, a capacidade que nós temos de não mais ver a vida, mas sim ver a vida como ela nos é imposta, por meio dessa enorme, digamos assim, captura do imaginário pelos sistemas de mídia contemporâneos."
"Eu sinto a mesma incerteza e a mesma sensação de dúvida que o professor Candido manifestou", afirmou Sevcenko.
(MR)

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