São Paulo, domingo, 29 de setembro de 1996
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Polícia de Arafat reprime palestinos

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A ISRAEL

A polícia palestina enfrentou ontem manifestantes palestinos na faixa de Gaza e na Cisjordânia. Houve cerca de 20 feridos nos choques, nenhum a bala.
Foi a primeira vez que a polícia da ANP (Autoridade Nacional Palestina) enfrentou membros de sua população desde quarta-feira, quando conflitos explodiram entre palestinos e israelenses.
O objetivo era evitar que manifestantes palestinos atacassem postos militares israelenses e assentamentos judaicos.
Até ontem, 68 pessoas haviam morrido nos choques. O motivo da violência foi a abertura, por Israel, de uma nova saída para um túnel que passa próximo a lugares sagrados do islamismo em Jerusalém.
O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, reiterou ontem que não vai fechar a nova saída. "O túnel está lá há 2.000 anos. Ele vai continuar aberto. Vai continuar aberto para sempre", disse.
Militares israelenses advertiram que voltariam a entrar nas cidades palestinas se ocorressem novos enfrentamentos com armas de fogo. Eles usariam inclusive tanques.
Até sexta-feira, forças palestinas trocavam tiros com soldados de Israel. Ontem, a imagem era outra.
A mudança é o primeiro sinal de que Iasser Arafat, o presidente da ANP, está retomando o controle sobre seus 30 mil policiais.
Em Ramallah (cerca de 20 km a noroeste de Jerusalém), houve colaboração entre forças policiais palestinas e soldados de Israel para afastar cerca de 50 adolescentes palestinos de um posto israelense.
A Folha esteve em Ramallah quando os adolescentes estavam sendo dispersados. Não houve violência, apenas empurrões e gritos.
O clima permaneceu tenso porque os adolescentes palestinos pareciam dispostos a seguir o estilo da intifada, levante marcado pelos ataques com pedras a soldados israelenses entre 1987 e 1993.
Os garotos se aglomeram em grupos de cinco, em média. Quando a reportagem se aproximou, um garoto gritou, em árabe. Tentou então o inglês "go away" (vá embora), com uma pedra na mão.
Em outro grupo, a aproximação foi tranquila. Fanuk, 15, disse que continuará lutando contra Israel mesmo que a polícia palestina não o apóie. "É uma pena, porque agora tínhamos armas melhores nas mãos." Nenhum policial palestino abordado quis falar.
Tensão
Em Gaza, houve conflitos entre policiais e manifestantes palestinos. Os soldados não interferiram.
Segundo a ANP, na tarde de ontem, havia um novo foco de tensão no sul da faixa de Gaza.
Já em Jerusalém, o dia foi tranquilo. Até as 18h locais, nenhum incidente havia sido registrado.
Em Tel Aviv, uma manifestação pedindo a continuidade do processo de paz reuniu 30 mil.

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