São Paulo, domingo, 29 de setembro de 1996
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Palestino prevê onda de ataques suicidas

PATRICK COCKBURN
DO "THE INDEPENDENT", EM RAMALLAH

Israel pode prever a ocorrência de uma onda de atentados suicidas para vingar a morte de palestinos nas mãos do Exército e da polícia israelenses.
A previsão foi feita por Marvan Barghuti, um dos altos assessores militares do líder palestino, Iasser Arafat. Ele acredita, também, que os enfrentamentos irão continuar em todos os distritos esta semana.
Segundo Barghuti, que é o secretário-geral da Fatah, o maior movimento político palestino na Cisjordânia, "pode-se prever uma onda de atentados suicidas em Israel nas próximas semanas".
Para ele, é quase inevitável que o Hamas, que desencadeou uma onda de atentados em Israel no começo do ano, promova mais ataques suicidas visando "conseguir o apoio da população", faturando em cima de sua ira.
Protegido por um muro das balas de borracha que quebravam os vidros das janelas de um prédio de apartamentos, logo acima, em um momento de distúrbio no final da semana passada, Barghuti comentou que mesmo que os israelenses fechem o túnel que passa debaixo da Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, provavelmente não será o suficiente para pôr fim aos enfrentamentos armados.
Ele disse: "O governo israelense terá de implementar o processo de paz, retirando suas tropas de Hebron, dando continuidade à retirada de suas tropas da Cisjordânia e libertando nossos prisioneiros". Disse que as instruções dadas aos ativistas da Fatah eram de continuar com as manifestações.
Indagado se existe possibilidade de o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, ordenar a seu Exército que assuma controle de Ramallah ou das outras cidades palestinas autônomas, Barghuti disse que a situação na Cisjordânia e em Gaza mudou muito desde 1994: "Quando os israelenses partiram, tínhamos centenas de armas. Agora, temos milhares".
Mesmo se os israelenses tivessem tanques e helicópteros, sofreriam baixas sérias, fato sublinhado pela morte de soldados israelenses esta semana, segundo Barghuti.
Nova ordem
Enquanto ele falava, a posição estranha ocupada pelos policiais palestinos em Ramallah se evidenciou, quando tentaram impedir jovens palestinos de atacarem a área ocupada pelos israelenses.
No dia anterior, a própria polícia palestina havia combatido os israelenses no mesmo local (a janela traseira de um furgão azul da polícia ostentava a foto de um policial morto, com a legenda "um mártir na batalha de Jerusalém"), e os manifestantes reagiram mal a sua intervenção. Voltaram-se contra os policiais antimotim palestinos, equipados com escudos plásticos transparentes, e atiraram saraivadas de pedras contra eles, obrigando-os a bater em retirada.
Em certo sentido, ambos estavam fazendo o que lhes cabia por direito. Os manifestantes palestinos, atirando pedras e garrafas de água mineral cheias de gasolina, defendiam uma colina situada dentro da área autônoma de Ramallah. A casa que tentavam incendiar ficava fora da cidade, na chamada área B, cuja segurança está a cargo dos israelenses.
Nenhum dos lados usava munição real, embora várias centenas de policiais palestinos -muitos usando uniformes de combate- estivessem posicionados bem perto, carregando submetralhadoras.
Barghuti não tinha dúvidas sobre as regras do enfrentamento: "Se os israelenses vierem para este lado da colina ou atirarem munição de verdade, a polícia palestina vai responder ao fogo".
Barghuti e outros líderes palestinos não parecem estar excessivamente consternados com os acontecimentos recentes. Ao abrir o túnel, Netanyahu obrigou os palestinos a se unirem em torno de Iasser Arafat, cuja popularidade vinha diminuindo porque o acordo de Oslo não trouxe melhoras para a vida dos palestinos, nem reduziu a brutalidade policial e militar.
O túnel israelense e a ameaça aos lugares sagrados muçulmanos também são questões que devem suscitar mais apoio para os palestinos entre o resto do mundo árabe. "Para nós, é uma questão muito melhor do que a expansão dos assentamentos judaicos na Cisjordânia", disse um analista palestino.

Tradução de Clara Allain.

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