São Paulo, domingo, 29 de setembro de 1996
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ABAIXO A REALIDADE

Já vinham se constituindo em motivo de enorme perplexidade as recentes declarações de algumas autoridades eclesiásticas, opondo-se drasticamente às campanhas que procuram incentivar o uso do preservativo para tentar reduzir a disseminação do vírus da Aids.
Agora é o arcebispo de Salvador e presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), d. Lucas Moreira Neves, que vem manifestar sua reprovação à proposta do Ministério da Educação de introduzir aulas de educação sexual nos currículos de 1º e 2º graus em todo o país. Segundo o prelado, "o problema não é instruir meninos e meninas sobre o ato sexual", mas educar "para o amor, para o relacionamento".
Infelizmente, trata-se, mais uma vez, da equivocada tentativa de apresentar considerações de ordem moral e religiosa para combater sérios problemas de saúde pública. De fato, não é possível ignorar a perigosa disseminação do vírus da Aids no país, assim como as assustadoras estatísticas referentes à gravidez indesejada entre os adolescentes.
A rapidez com que esses problemas vêm se propagando não permite que ainda se pense que a solução está unicamente nas campanhas moralizadoras. Elas estão longe de oferecer respostas claras e imediatas às urgentes demandas da realidade.
No entanto, aparentemente, não pensa assim d. Lucas Moreira Neves. O arcebispo, aliás, parece ignorar o importante papel que poderia ser desempenhado pela entidade que preside, tendo em vista o esclarecimento dos próprios fiéis católicos, os quais, apenas por professarem sua fé, não estão, é evidente, imunes às doenças sexualmente transmissíveis e aos riscos de gravidez prematura.
Lamentavelmente, boa parte da hierarquia da Igreja Católica se mostra ainda muito resistente em atualizar seus preceitos morais. Corre o risco, assim, de não poder bem servir o "rebanho" de seus fiéis.

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