São Paulo, domingo, 29 de setembro de 1996
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FIM DA CIÊNCIA?

A ciência acabou ou está viva? Foi essa a polêmica acesa pelo jornalista John Horgan da prestigiosa e sesquicentenária revista "Scientific American" em seu livro "The End of Science", em que ele defende a tese de que não haverá mais grandes progressos na ciência.
A reação da grande maioria dos cientistas contemporâneos foi desqualificá-la. De fato, são dois grandes modelos que prevalecem na epistemologia. O primeiro, criado por Karl Popper, afirma ser a ciência produzida por uma espécie de senso comum (intersubjetividade) entre os pesquisadores.
Numa outra interpretação, imaginada por Thomas Kuhn, a ciência se vai realizando de modo mais ou menos costumeiro (a chamada ciência normal) até que, aos poucos, um determinado paradigma, como o newtoniano, por exemplo, seja substituído por outro (Einstein). Nesses casos, há o que Kuhn chamou de revolução científica. Encaixar-se-iam aí cientistas como Copérnico, Galileu, Newton, Einstein, Bohr.
Horgan confessa ter levado um susto mês passado quando se anunciou a existência de vida em Marte, mas ele está convencido de que sua teoria do fim da ciência só poderá ser considerada errada se se descobrir vida inteligente fora da Terra.
Estando certos tanto Popper como Kuhn, Horgan estará necessariamente errado. Mesmo que se admita uma forte distinção entre ciência e tecnologia, ainda assim a proposição do jornalista parece exagerada.
Para ficar no único exemplo da psiquiatria, sabe-se hoje da existência e importância dos neurotransmissores, mas não se conhece exatamente como eles funcionam. Esse tipo de raciocínio pode ser quase que automaticamente transposto para várias outras áreas.
No século 19 muitos acreditaram que a ciência já tinha chegado a seu mais alto grau possível de desenvolvimento. Depois vieram a relatividade, a mecânica quântica e tudo o mais que se conhece hoje. Como se vê, os que criam nisso erraram redondamente.
A única coisa certa é que o saber é longo e a vida breve.

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