São Paulo, domingo, 29 de setembro de 1996
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Cely Campello

MARCELO MANSFIELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

A música dizia claramente: "Ela não tem namorado...", mas um dia, um "Estúpido Cupido" apareceu com um "Broto Legal", e a Rainha Cely saiu de cena direto para a igreja, abandonando uma legião de fãs no escuro do "Túnel do Amor".
Foi a minha primeira desilusão amorosa. Chorei o dia todo, inconformado com essa traição pública do meu grande amor.
Por sorte, as coisas do amor são facilmente superáveis quando se tem cinco anos. Além do mais, era possível contar com Cleide Alves ou Lana Bitencourt na hora da fossa. Mas uma coisa era fato: Cely Campello casou-se com seu "grande amor".
Conta a história que Cely era uma estudante de Taubaté quando seu irmão, Tony Campello, já um cantor de certa fama, a chamou para dividir o lado B de um de seus discos, que necessitava de uma voz feminina. Como em "Nasce Uma Estrela", ela virou um sucesso "overnight" no começo da era do rock.
Ao contrário dos Elvis e Brendas da época, Cely não sacolejava como uma pipoca, ou se revoltava contra o "establishment". Ela ficava paradinha, em frente ao microfone, falando de lacinhos cor-de-rosa e aulas de geografia, assuntos mais em dia com a juventude da era Juscelino.
Seu ar de "broto certinho" ia mais de acordo com Doris Day e Sandra Dee do que com Mamie Van Doren.
No apogeu, Cely largou a carreira por um casamento estável que dura até hoje. Fez bem, embora na época eu não concordasse. Pouco tempo depois, Roberto Carlos mandaria tudo pro inferno, a invasão inglesa dos Beatles estava na esquina e a "Papa al Pomodoro" de Rita Pavone estava no forno. Dois ou três anos depois, Mary Quant mostraria ao mundo que mulher tinha joelho. E a minissaia não combinava com "Lacinhos Cor-de-rosa".
Em 1976, Mario Prata escreveria a novela que não só retrataria com perfeição os "anos Cely", mas também entraria para a história como a última novela em preto-e-branco, "Estúpido Cupido". Na trama, a bela Françoise Forton interpretava Maria Teresa, uma normalista do interior que se tornava Miss Brasil, mas abandonava o título para casar com seu verdadeiro, Ricardo Blat, do mesmo jeito que Cely Campello abandonou a carreira anos antes.
Lá pelo capítulo 100, os jovens da cidade, liderados por Ney Latorraca, convidavam a própria Cely para se apresentar no clube local. E, fazendo seu próprio papel, lá veio ela com seu laço cor-de-rosa enfeitar a novela. Um estouro.
Quando os créditos finais subiram pela telinha acinzentada da TV no último capítulo, Mario Prata havia conseguido fazer o balanço de uma época. Dois dias depois, com a estréia de "Locomotivas", a "discoteca" chegava para ficar (pelo menos por uns dois anos), e Cely daria lugar a Donna Summer e Andrea True Connection. O cabelo "gatinho" de Djenane Machado era substituído pelo ar Farrah Fawcett-Majors de Lucélia Santos.
Me pergunto como ficou a cabeça de Luiz Carlos Barroso, que na novela anterior vivia um rapaz do interior dos anos sessenta, e dias depois, sassaricava com suas camisas de florzinhas em pleno Rio de Janeiro de 1977.
Tudo bem. Novela é mentira. Mas Cely era de verdade. E dá-lhe banho de lua.

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