São Paulo, quinta-feira, 9 de janeiro de 1997
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Ano Novo. Hora de arquivar os mitos

ALOYSIO BIONDI

O ano de 1996 se encarregou de destruir uma série de mitos, mentiras e "modismos" espalhados por formadores de opinião -e governantes.
O Brasil poderá ter um 1997 -e um futuro- muito melhores se classe média e povão se lembrarem dessas reviravoltas e reagirem contra diretrizes econômicas (e políticas) impostas ao país na base da "lavagem cerebral". Um balanço incompleto, para ajudar essa reação:
* Bancos - voltaram a ter lucros recordes no trimestre. No ano, será "o melhor resultado" após o Plano Real.
Mas "especialistas", ex-ministros e, óbvio, a equipe FHC continuam a repetir a patacoada de que os bancos sofreram com a queda da inflação. Com isso, justificam os "socorros" aos bancos, alegando que é preciso evitar a "quebra" do sistema financeiro.
* Crime - há dois anos, "especialistas" e a equipe FHC dizem que "metade" dos bancos brasileiros de menor porte vão "quebrar" por causa da queda da inflação. Previsão criminosa, que em outros países já teria dado origem a processos na Justiça -e desmentida pela realidade acima.
* Dólar - durante dois anos, a equipe FHC previu que as exportações cresceriam e as importações se estabilizariam.
Ela não sabe o que diz. Nem o que faz. As importações seguem em disparada, destruindo empregos e empresas. O "rombo", diferença entre importações e exportações, é gigantesco.
* Dólar, ainda - com uma visão teórica, "furada" -tipo "relação entre importações e crescimento do PIB"-, economistas insistem em dizer que o "rombo" dos dólares é causado pela expansão da economia e do consumo.
As estatísticas desmentem essas teses. As importações estão crescendo, em alguns setores, a uma velocidade quatro, cinco, dez vezes maior do que a produção. Exemplo-lembrete: a importação de peças para TV e outros eletroeletrônicos passou de US$ 3 bilhões para US$ 11 bilhões. O Brasil deixou de produzir para importar.
* Funcionalismo - o ministro Bresser Pereira passou meses reforçando o mito de que havia funcionários públicos em excesso no Brasil, isto é, o tal "inchaço" da máquina governamental.
Levantamentos do próprio governo mostraram que o número de funcionários "per capita", isto é, comparado com o número de habitantes, é de quatro a oito vezes menor do que na Inglaterra ou na França.
Mesmo assim, o governo FHC força a demissão ou a aposentadoria de funcionários.
* Terceirização - governo federal e governadores que aceitaram a chantagem de Brasília demitem funcionários. Depois, contratam empresas fornecedoras de mão-de-obra, que recebem até 200% do valor dos salários dos trabalhadores contratados na "moita".
A mesma aberração que o governo Mário Covas encontrou em São Paulo, no caso Baneser (engraçado: o nome das empresas que superfaturaram salários nunca foi divulgado. Nem se ouviu falar que elas tenham sido punidas).
* Agricultura - o presidente anunciou prioridade à agricultura. Mas o crédito para o plantio foi racionado, limitando-se a 20% ou 30% do valor de anos anteriores em alguns Estados.
E, neste exato momento, agricultores paranaenses não têm a quem vender o milho da safra que começa -porque a equipe FHC extinguiu a política de comprar colheitas.
* Sonegação - Fala-se que o Tesouro não tem dinheiro, para justificar a privatização. Ou a morte de bebês em Fortaleza, velhinhos no Rio, doentes em Caruaru.
Mas a equipe FHC, na semana passada, concedeu novo parcelamento (em até 72 meses) aos devedores de impostos. É a sexta anistia decretada por ela.
* Reeleição - pesquisas mostram estar aumentando o número de cidadãos favoráveis à permissão para que o presidente FHC se candidate à reeleição.
Pudera. Jornais e TVs martelam que sem essa reeleição a inflação vai voltar, o investidor estrangeiro deixará de confiar no país, a economia irá para o brejo. Com essa lavagem cerebral, que apavora o cidadão, para que fazer plebiscito sobre a reeleição?

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