São Paulo, quinta-feira, 9 de janeiro de 1997
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Assim era a Atlântida

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Passando pelo Rio em companhia de John Ford, Gregg Toland, o célebre diretor de fotografia de "Cidadão Kane" e outros, visitou os estúdios da Atlântida quando era rodado um filme de José Carlos Burle. Conversou, cumprimentou os técnicos, foi embora.
Tempos depois reencontrou Burle e disse mais ou menos isso: "Vi seu filme. Não é nenhuma maravilha, mas é um filme. Pelo que eu vi lá, pensei que nem isso fosse sair".
Quem diz Atlântida diz chanchada: comédias populares ou popularescas, conforme o gosto, que do fim dos anos 40 ao início dos 60 teve o mérito de abarrotar os cinemas, mostrar ao público os artistas da Rádio Nacional e, sobretudo, servir de palco ao humor de Oscarito, Grande Otelo, Zé Trindade, Zezé Macedo e outros tantos.
Não era um cinema de resistência. Era a indústria de um cinema subdesenvolvido, falando a um público idem.
Foi, também, o lance magistral de Severiano Ribeiro. No momento em que as leis antitruste impediam as "majors" americanas de possuírem salas de exibição, este dono de um grande circuito passou a operar toda a cadeia industrial do cinema: produção, distribuição, exibição.
A chanchada era rápida e barata -atributos com frequência visíveis na tela-, mas soube desenvolver um vínculo profundo com seu público.
Com a Atlântida, o cinema brasileiro deixou de ser uma hipótese e trocou a imitação de Hollywood, como norma, pela resposta paródica, apoiada na tradição do teatro de revista e, claro, do Carnaval.
Vista retrospectivamente, tem um quê antropofágico, no sentido que Oswald de Andrade dava à palavra: constituía a cultura e um olhar sobre o Brasil a partir da absorção das virtudes do cinema estrangeiro que aqui se exibia.

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